Sonia Moraes
Mesmo com a dificuldades da cadeia de suprimentos, a DAF está com a produção de caminhões quase normalizada na fábrica de Ponta Grossa, no Paraná. “Não temos mais dificuldades com a falta de componentes. Por ter contratos de longo prazo com alguns fornecedores, a DAF está sendo menos impactada e já tem estoques de peças. Se houver demanda do mercado, a empresa tem capacidade para aumentar a produção”, afirmou Luis Gambim, diretor comercial da DAF Caminhões Brasil, durante a entrevista exclusiva à Transporte Moderno.
O abastecimento de semicondutores também está sob controle. “Este é um tema que ainda preocupa bastante, mas a DAF tem um grupo na Europa que faz o acompanhamento e reporta semanalmente para o board. As fábricas da Europa, Brasil e Estados Unidos não enfrentam problemas neste momento”, esclareceu Gambim.
Para ser menos dependente da flutuação do câmbio, que influencia os custos do produto, a DAF tem investido para aumentar a nacionalização dos seus veículos. Hoje os caminhões saem da linha de montagem com uma média de 30% a 35% de peças importadas, numa variedade de itens. “Quando o primeiro caminhão foi lançado no Brasil tinha 50% de conteúdo nacional e esse índice foi aumentando gradativamente, mas ainda é grande a dependência de peças importadas”, disse Gambim.
O executivo destacou que a DAF conta com um departamento que trabalha mensalmente na localização dos componentes. “É um processo demorado porque é preciso fazer investimentos em ferramental dos novos fornecedores e ter a matéria-prima no país.”
Um exemplo de nacionalização é a do motor Paccar MX3, que antes era todo importado. “Hoje a empresa recebe bloco do motor da Tupy, que é usinado na Holanda, e faz a montagem e o teste de calibragem na fábrica de Ponta Grossa”, explicou Gambim. “Como o mercado cresceu e os volumes cresceram não compensava mais importar esses motores.”
Na fábrica de Ponta Grossa, a DAF trabalha em um turno, produzindo em média 700 caminhões por mês. Esse volume representa um aumento de 40% em relação aos 500 veículos mensais que eram fabricados no ano passado. De janeiro a maio deste ano, saíram da linha de montagem 200 modelos semipesados.
Nesta fábrica, a DAF planeja fazer mais investimentos para inserir os conceitos da indústria 4.0. “Em 2023 a empresa vai investir para ampliar a capacidade de produção e acompanhar o ritmo de crescimento da empresa. A expansão será na área de teste e de calibragem de motores e em novos equipamentos de alta precisão para ter uma produtividade ainda maior”, esclareceu Gambim.
O objetivo da companhia, segundo o diretor, é construir uma trajetória sólida de crescimento no Brasil, alcançando resultados positivos e avançando um pouco a cada ano. “Não temos pressa, queremos crescer de forma consistente”, ressaltou.
Para se manter nesta trajetória positiva, a DAF também faz investimentos na área de serviços e pós-venda. “Terminamos 2021 com 52 pontos de atendimento, sendo 43 concessionárias e nove lojas TRP (que oferece serviços e vende peças multimarcas). Para 2022, os planos são de abrir mais dez, e terminar 2022, com 62 pontos de atendimento”, disse Gambim.
“Hoje, com 16 grupos econômicos, a DAF tem 100% de cobertura no território nacional. O caminhão semipesado CF de sete litros nos obriga a ter uma capilaridade maior porque o perfil deste cliente é um pouco diferente do de caminhões pesados. Eles não andam 300 ou 400 quilômetros para fazer uma revisão, eles querem uma concessionária mais próxima e precisam de um atendimento mais rápido”, comentou Gambim.
O caminhão CF de sete litros foi lançado no mercado brasileiro em janeiro deste ano, marcando a estreia da marca no mercado de semipesados. “A empresa participava somente no segmento de pesados, que representa 55% do mercado total. Agora, com a entrada no segmento de semipesados, que tem 25% de representatividade, temos uma gama de produtos que nos permite participar de um mercado com 80% de representatividade do mercado nacional”, destacou Gambim.
O modelo semipesado está sendo um sucesso, segundo Gambim. “É um produto com muita qualidade, oferece conforto para o motorista, e estamos felizes com os resultados e a aceitação dos clientes.”
No Brasil, as vendas da DAF estão bem pulverizadas e não há mais dependência somente das regiões sul e sudeste do país. “Conseguimos equilibrar a operação em todos os estados brasileiros, somos a segunda marca mais vendida no norte do país, temos uma participação forte no centro-oeste e no Rio Grande do Sul. O agronegócio tem impulsionado os negócios, mas outros segmentos estão fortes neste ano, como o de combustível, fertilizantes e o de madeira, com novos clientes comprando os caminhões da marca.”
Gambim ressaltou a importância das feiras presenciais para alavancar os negócios da companhia. Assim como a Bahia Farm Show, a Tecnoshow, Agrishow e Transposul, que trouxeram bons resultados de vendas, há muita expectativa em relação à Fenatran. “Vamos lançar na Fenatran os caminhões com motor Euro 6, que atendem as normas de emissões que entrarão em vigor a partir de janeiro de 2023, uma linha nova de peças, novos produtos financeiros e novos serviços na área de plano de manutenção que vem crescendo. Hoje temos 20% das vendas com contrato de manutenção. Isso mantém uma fidelização muito grande dos clientes”, revelou o diretor.
Estimativa-
Em 2022, a DAF projeta crescer 20%, superando o desempenho do mercado de caminhões que deverá avançar 10% neste ano, segundo projeções da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). “A DAF vem crescendo acima da média das outras empresas e isso se deve ao ganho de escala. Estamos aumentando a participação de mercado e o volume de vendas, com os caminhões da marca sendo muito demandado pelos frotistas”, afirmou Gambim.
No mercado brasileiro, a DAF vendeu 2.465 caminhões de janeiro a maio de 2022, com crescimento de 12,1% sobre o mesmo período de 2021, cujas vendas atingiram 2.199 veículos. Do total vendido neste ano, 2.410 são caminhões pesados, que tiveram aumento de 9,6% sobre os cinco meses do ano passado, segundo a Anfavea.
“Na contramão do mercado, que registrou queda de 9% nas vendas de veículos pesados de janeiro a maio deste ano, a DAF cresceu 9% e foi uma das marcas que mais avançou em volume e em participação. Saímos de um market share de 8,4%, alcançado nos cinco primeiros meses do ano passado, para 10,8% no mesmo período deste ano”, disse Gambim.
Somente neste ano, a DAF conquistou 400 novos clientes, que compraram os caminhões da empresa pela primeira vez. “São clientes do segmento agrícola, de combustível e principalmente o off road, como o de madeira, que realizou compra expressiva de caminhões da marca”, detalhou Gambim.
Exportação –
Além de buscar o fortalecimento no mercado brasileiro, a DAF começa a prospectar novos negócios no exterior. “Começamos a fazer alguns testes exportando dois modelos o XF 6×2 e 6×4 e o CF off road, com 20 unidades do CF de sete litros”, revelou Gambim. A expectativa é de exportar 300 caminhões este ano.
Os caminhões foram destinados para o Chile, Colômbia, Equador e Bolívia. “Estamos desenvolvendo um programa junto ao governo para conseguir o drawback (sistema aduaneiro que consiste na suspensão ou isenção de tributos incidentes dos insumos importados e ou nacionais vinculados a um produto a ser exportado). O sistema da DAF deve ficar pronto em 12 meses, aí teremos uma decisão da companhia se usará a fábrica brasileira para aumentar as exportações”, esclareceu Gambim.
Elétricos –
Sobre os caminhões elétricos, Gambim afirmou que a DAF disponibiliza esses veículos na Europa e nos Estados Unidos, com um número grande em operação, principalmente no Reino Unido.
“Por uma decisão estratégica da companhia, a partir do momento que o mercado brasileiro tiver infraestrutura adequada que suporte uma operação de eletrificação a DAF está pronta para produzir os caminhões elétricos no Brasil. A nossa visão é de que hoje os caminhões elétricos seriam muito mais uma dificuldade do que um proveito para o cliente.”
Gambim destacou também o alto preço dos caminhões devido ao aumento da demanda e à falta de componentes que se agravou com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. “Um caminhão elétrico custa de 30% a 40% mais caro que um modelo a combustão e os clientes não estão suportando os fretes atuais dos embarcadores. A tecnologia a DAF tem, mas prefere aguardar, ter um pouco mais de visibilidade para que o caminhão elétrico traga benefício para os clientes.”
Mercado-
Sobre as perspectivas para o mercado de caminhões, Gambim acredita que este setor tenta se firmar depois do impacto enfrentado com a alta na taxa de juros, que tem pressionado os custos dos clientes, e também dos aumentos dos preços do diesel e dos componentes pelos fornecedores. “Existema ainda as dificuldades causadas pela guerra, como a falta de navios para trazer peças da Europa, que acabou gerando uma pressão nos custos que foi repassado ao preço dos caminhões de todas as marcas”, relatou o diretor da DAF.
“Entramos o ano com alívio da pandemia, com as pessoas querendo voltar num ritmo acelerado, mas ao mesmo tempo com a preocupação da volta de lockdown. Acho que, neste ano, o mercado de caminhões vai seguir a tendência de anos anteriores, com o primeiro semestre menor que o segundo, mas estou confiante no segundo semestre. Embora não veja nada positivo, e ainda há as eleições. Mas historicamente, o segundo semestre costuma registrar demanda maior e este ano deve fechar igual o ano passado. Se houver crescimento, será bem pequeno”, disse Gambim.