Sonia Moraes
A Brado, empresa que utiliza a logística multimodal para o transporte de contêineres, vai ampliar o atendimento com a operação na malha ferroviária central a partir de julho deste ano. “Vamos levar carga de Sumaré, no interior de São Paulo, para Anápolis, em Goiás, num percurso de ida e volta, e fazer a operação de exportação e de importação a partir de Anápolis até o porto de Santos, em São Paulo”, revelou Marcelo Saraiva, presidente da empresa, à Transporte Moderno durante a Intermodal South America 2022.
A malha central, controlada pela Rumo, tem 1.537 quilômetros e atravessa os estados de Tocantins, Goiás e Minas Gerais até chegar a São Paulo. Para transportar cargas neste trecho, a Brado comprou novos vagões e locomotivas. “Já temos parceria fechada com o porto seco, que vai operar os nossos trens, e negócios concretizados com os clientes”, afirmou o presidente da Brado.
Depois de Anápolis, a Brado vai começar em 2023 a rodar de Sumaré até Davinópolis, no Maranhão. “Já temos pessoas contratadas se preparando para iniciar as operações no ano que vem e contratos fechados com os clientes”, disse Saraiva.
Hoje a Brado atende mais de 60 clientes dos segmentos agrícola, de bens de consumo, de produtos de limpeza e de construção civil no mercado interno, que representa 27% do volume total de carga movimentada pela empresa. A meta é elevar para 50% essa representatividade até 2030. Ao todo, são transportados cerca de 25 tipos de carga, como matérias-primas, produtos agropecuários (fertilizantes e defensivos agrícolas) e itens industrializados.
Neste ano, a empresa pretende transportar 472 mil TEU por ferrovia no mercado interno e no exterior (com exportações e importações), o que representará um crescimento de 35% em relação a 2021, quando foram transportados 350 mil TEU.
Saraiva comentou que a Brado vem tendo bom desempenho em Rondonópolis, com 70% dos contêineres voltando de Sumaré carregados. A empresa também registra grande volume de exportação de proteína animal e de algodão para a China.No Mato Grosso, de toda movimentação de algodão realizada pelo estado, cerca de 35% é feita pela empresa.
Em 2021 a Brado cresceu 56% no mercado interno, no trecho de Rondonópolis até Sumaré, descendo com proteína animal do Mato Grosso para Sumaré e subindo com bens de consumo, material de construção, fertilizantes, agroquímicos de Sumaré para o Mato Grosso. No fluxo de subida, o crescimento foi expressivo no ano passado: 78% com o transporte de agroquímicos e 70% de produtos de higiene e limpeza.
Sustentabilidade
A demanda por ferrovia tem crescido muito, segundo Saraiva, principalmente por causa da preocupação das empresas com a sustentabilidade. “Na pandemia crescemos dois dígitos porque o Brasil alimenta o mundo e entendemos que precisava investir no mercado interno e isso fizemos bem, tanto que crescemos 56% em 2021 em relação a 2020”, destacou Saraiva.
Para dar suporte ao crescimento, a Brado tem feito investimento em terminais, em vagões e locomotivas. “Eu exalto que esse crescimento tem sido amparado pela expansão e melhoria contínua da operação da Rumo, que vem dando oportunidade de a Brado entrar nas rotas que eram exclusivas de caminhões”, destacou Saraiva. Ainda na malha da Rumo a movimentação da Brado no Paraná está focada na exportação de proteína animal e importação de fertilizantes.
No mercado interno, as operações da Brado são multimodal e funcionam no sistema round-trip (viagem completa), com trens totalmente carregados e transporte rodoviário que atende os clientes que necessitam de intermodalidade. As mercadorias saem da fábrica do cliente e seguem até os terminais da empresa e depois são distribuídas para várias localidades. Para a operação de coleta e distribuição, a empresa utiliza caminhões, modelos sider e plataforma, que levam os produtos em contêineres. “Trabalhamos com caminhoneiros autônomos que rodam de 100 a 300 quilômetros, num trajeto mais próximo de suas casas, o que garante mais qualidade de vida para este profissional”, explicou Saraiva.
Desde 2019, a Brado vem utilizando vagões double-stack, que permitem operar com contêineres empilhados em dois níveis em trajetos de longas distâncias. Essa modalidade de transporte atrelada ao uso de contêineres de 53 pés representa um grande poder de inovação da empresa e garante ganho superior a 40% na capacidade de transporte de trens de carga. “Movimentamos no fluxo de ida as commodities como o milho, ração e óleo vegetal”, disse Saraiva.
“O milho é recebido e armazenado em silos separados em nosso terminal em Rondonópolis, o que assegura a qualidade das quase 600 mil toneladas que transportamos por ano para atender o consumo no mercado paulista. Na volta para o Mato Grosso, carregamos os contêineres com bens de consumo diversos, como alimentos, bebidas, materiais de construção e produtos de limpeza.”
Para sua operação a Brado conta com estrutura própria composta por 19 locomotivas, 4,9 mil contêineres e 2,9 mil vagões, além de equipamentos, armazéns e terminais. No trecho de Sumaré até Rondonópolis a empresa utiliza 250 vagões double-stack.
Destaques em 2021 –
No ano passado, a Brado iniciou operação no Paraguai. “Com a entrada neste mercado, estamos proporcionando valores únicos, que incluem a redução de lead timee do custo de capital, aumento de competitividade, segurança no transporte da carga e regularidade do serviço. Até agora, o Paraguai tinha uma logística excessivamente dependente dos rios, que sofrem com períodos de estiagem ao longo do ano”, afirmou Saraiva.
“Nesta operação, a empresa tira a carga do Paraguai e leva até o terminal de Cambé e depois exporta pelo porto de Paranaguá, no Paraná”, explicou Saraiva. Do Paraguai, a empresa traz proteína animal e leva para lá pneus, bens de consumo e produtos químicos.
Outro destaque são as operações com declaração de trânsito aduaneiro (DTA). No ano passado, a Brado se especializou em oferecer ao mercado soluções logísticas com a opção de desembaraço de carga nos portos secos, em vez de portos molhados. Passou a nacionalizar a carga no porto seco de Cuiabá, iniciativa que já reflete em ganhos logísticos para indústrias do Mato Grosso.
A empresa também recebeu o reconhecimento da Receita Federal como operador econômico autorizado (OEA) na modalidade segurança, em reconhecimento a sua capacidade de gerir riscos relacionados à integridade física das cargas, além de cumprir as conformidades tributárias e aduaneiras. Assim, a Brado passou a ter prioridade nos processos de importação e exportação de produtos, garantindo mais agilidade no atendimento aos clientes.
Desde 2019, a empresa tem trabalhado em um projeto de redução da emissão de CO2, o Green Log. Pelo portal Green Log os clientes podem calcular os benefícios que a multimodalidade logística proporciona. Além dos valores mensais e totais de emissões evitadas de gás carbônico, há detalhes como o indicador de emissão ferroviária, que expressa os gramas de CO2 não-lançados no meio ambiente para cada unidade de peso transportada e distância percorrida.
“Ao optar pelo transporte ferroviário, só em 2021 nossos clientes deixaram de emitir mais de 254 mil toneladas de CO2”, afirmou o presidente da Brado. “É um aumento de 11% em relação a 2020 e o equivalentes à emissão anual de quase 55 mil veículos. Este volume de CO2 que deixou de ser emitido necessitaria de mais de 1,8 milhão de árvores para ser integralmente absorvido”.
Nos últimos anos, a Brado fez investimentos para proporcionar melhor atendimento aos clientes. As iniciativas incluem desde a implantação de uma área de customer experience até a melhoria de ferramentas em seus canais de comunicação com as empresas atendidas.
“Lançamos há alguns anos, e temos feito melhorias constantes no nosso portal do cliente, o WeBrado”, afirmou Saraiva. “Conectamos nossos clientes com as informações da companhia em tempo real. Com isso, ele pode ter detalhes sobre a logística da sua carga por meio de uma plataforma 100% online e adaptada para interações via mobile e desktop”. O principal objetivo da Brado é propiciar ao cliente uma visão geral do serviço: contratação, gerenciamento do percurso, tempo estimado para chegada ao destino.