Transporte Moderno – Quais as dificuldades de se incorporar veículos elétricos nas operações logísticas?
Jonas Rabello – Ainda há certa falta de infraestrutura para a recarga dos veículos elétricos em determinados locais no país, prejudicando viagens de longa distância, por exemplo. Isso pode representar uma dificuldade para a incorporação em massa desses modelos, num curto prazo.
Transporte Moderno – E as vantagens?
Jonas Rabello – Os veículos elétricos são muito mais sustentáveis. Em termos comparativos, para cada veículo urbano de carga (VUC) movido a diesel que é retirado das ruas, cinco toneladas de monóxido de carbono deixam de ser emitidas por mês, o que equivale ao plantio de 35 árvores para neutralizar suas emissões.
Além de mais sustentáveis, os veículos elétricos oferecem vantagens para os negócios e para os consumidores. Como não fazem barulho, os motores elétricos viabilizam a entrega de produtos à noite e de madrugada, contribuindo para a redução de trânsito. Além disso, o custo operacional dos elétricos é um terço do que o custo de um veículo movido a combustível fóssil.
Transporte Moderno – Quantos modelos elétricos de carga estão em operação na companhia? Como tem sido a experiência de utilizar este tipo de veículo?
Jonas Rabello – O uso de veículos elétricos faz parte do compromisso da JBS de ser Net Zero até 2040, ou seja, de zerar o balanço líquido de suas emissões de gases causadores do efeito estufa, reduzindo a intensidade de emissões diretas e indiretas e compensando toda a emissão residual.
A Seara já conta com um caminhão 100% elétrico em operação no Brasil, atuando em Santa Catarina, entre Balneário Camboriú e Itajaí, o primeiro a rodar na indústria de alimentos refrigerados do país. A experiência tem sido muito positiva e 30 novos veículos deste mesmo tipo foram adquiridos e devem chegar até o fim do ano e começar a rodar até fevereiro de 2022 pelo país.
Além disso, a Seara adquiriu em julho deste ano o caminhão elétrico da Volkswagen – e-Delivery. O veículo, que deve chegar em outubro, vai circular em São Paulo e se diferencia pela volumetria de entrega, sua capacidade líquida pode chegar a 4,5 mil quilos, e o fato de ser o primeiro refrigerado.
Transporte Moderno – Quais os planos da empresa em termos de eletrificação? Há interesse em aumentar o número de caminhões elétricos?
Jonas Rabello – A inovação e a sustentabilidade são pilares fundamentais para a Seara, e o projeto com caminhão 100% elétrico reforça esse posicionamento. Estamos sempre em busca de modais alternativos e limpos, e o nosso objetivo é ampliar cada vez mais o alcance dessas soluções logísticas disruptivas, garantindo sempre qualidade e respeito aos prazos das entregas para os nossos clientes. A meta da empresa é chegar a 40% da frota formada por veículos elétricos em cinco anos.
Transporte Moderno – A Seara também faz uso de modelos com outras matrizes energéticas “limpas” como biodiesel ou gás? Ou a preferência é por modelos elétricos? Por quê?
Jonas Rabello – O uso de veículos elétricos ou movidos a combustíveis de fontes renováveis faz parte do compromisso da JBS de ser Net Zero até 2040. Além do caminhão elétrico, a Seara iniciou um projeto-piloto de carretas sustentáveis movidas a GNV (gás natural veicular). Quando comparado com um caminhão a diesel, o modelo movido a GNV emite 17% a menos de gás carbônico (CO²). Além disso, reduz a emissão de material particulado em 95%. O resultado disso é que o caminhão a GNV possibilita a redução de 7,6 toneladas de gases causadores do efeito estufa por ano.
Transporte Moderno – Apesar dos modelos elétricos serem mais caros que os movidos a diesel, o senhor acredita que o setor de logística e transporte deve ampliar significativamente o uso dessa tecnologia nos próximos anos?
Jonas Rabello – Com certeza. Isso porque a ciência já demostrou que a queima de combustíveis fósseis, como o petróleo, gás e carvão, para o transporte de cargas e pessoas é uma das principais causas das mudanças climáticas. O setor de logística e transporte já começou a se mobilizar para implementar uma mudança efetiva na sua matriz energética em direção às fontes renováveis, assim como a indústria que também utiliza transportes de carga em suas operações. Vemos cada vez mais as empresas reconhecendo que a preservação ambiental e a perenidade de seus negócios dependem de um sistema produtivo mais sustentável, com benefícios aos negócios, consumidores e a todo o ecossistema.
Transporte Moderno – O senhor acredita que a sustentabilidade já é uma realidade no setor? O que falta para avançarmos mais rapidamente na eletrificação, por exemplo?
Jonas Rabello – A preocupação da indústria com a sustentabilidade é real, e empresas já estão estabelecendo metas para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa. A adoção de veículos elétricos, os movidos a fonte renováveis de energia, como biocombustíveis, e ou de baixo carbono, como os veículos movidos a GNV, são formas de combater o aumento da temperatura global.
Quando falamos sobre frear os impactos no aquecimento global pela emissão de gases do efeito estufa, não há como deixar de fora deste compromisso o setor de transporte rodoviário. É possível vislumbrar um futuro mais sustentável. Vários países, inclusive, já sinalizaram a proibição do uso de combustíveis fósseis num futuro próximo, por exemplo, com compromissos de grandes reduções nos próximos dez anos e emissão zero em 2050.
Atualmente, os principais desafios para eletrificação das frotas de transporte no Brasil é o alto custo de aquisição dos veículos e a infraestrutura de recarga incipiente, especialmente quando consideramos transporte de carga em longas distâncias.
Mais informações: II Fórum Transporte Sustentável