Transporte Moderno – Como está, neste momento, o mercado da aviação geral?
Flávio Pires – O mercado da aviação geral está em processo de recuperação gradual do seu volume de operações referentes ao período pré-pandemia. No momento, o setor ainda está abaixo dos níveis de movimentação de 2019, mas com valores próximos, tendo registrado 26 mil movimentações nos principais aeroportos brasileiros em outubro de 2020, contra 30 mil movimentações em outubro de 2019.
Transporte Moderno – A pandemia impactou o setor?
Flávio Pires – Sim, principalmente no início da pandemia, em abril, com as restrições de mobilidade e o processo de isolamento social interrompendo viagens de turismo e trabalho, tanto para destinos nacionais quanto internacionais, os quais sofreram mais devido ao fechamento de fronteiras.
Transporte Moderno – Que segmentos estão mais aquecidos?
Flávio Pires – Podemos destacar o aumento expressivo de voos do transporte aeromédico, e o aumento da demanda por aeronaves do táxi aéreo, o qual desempenhou papel fundamental na manutenção da conectividade aérea durante o início da pandemia, quando a linha aérea comercial reduziu suas operações em 93%.
Transporte Moderno – Que regiões do Brasil têm apresentado maior demanda por aeronaves? E para fretamento?
Flávio Pires – Em relação a entrada de aeronaves novas e usadas na frota da aviação geral, observamos que as regiões sudeste e centro-oeste apresentam os maiores números, concentrando 77% do total de aeronaves entrantes na frota. Sobre o fretamento, nas regiões sudeste e sul tivemos uma grande procura por voos de repatriação de brasileiros impedidos de voltar ao país pela suspensão de rotas da linha aérea internacional no início da pandemia.
Já na Amazônia e no Centro-Oeste, aumentou muito a demanda pelo transporte aeromédico e de medicamentos e de insumos hospitalares. Posteriormente, em todas as regiões do país o transporte doméstico de passageiros e de cargas de pequeno volume entre localidades em que a aviação comercial brasileira deixou de alcançar também contribuiu para a recuperação do setor. Terminamos o ano com um nível de atividade praticamente equivalente ao de antes do início da pandemia em todo o país.
Transporte Moderno – Que tipo de aeronaves tem sido mais procuradas?
Flávio Pires – Nos casos de compra de aeronaves novas e usadas, os turboélices e as aeronaves a pistão correspondem a 60% do total de aeronaves que ingressaram na frota da aviação geral em 2020. Em relação ao fretamento, a variabilidade é muito grande. O táxi aéreo é muito diferente da linha aérea, que utiliza praticamente só três modelos de aeronaves na operação doméstica: Boeing 737, Airbus 320 e ATR-72. Entre os aviões a reação, a linha da Embraer, com os modelos Phenom 100, 300 e Legacy, e os da família Cessna Citation são os mais utilizados. Já entre os turboélices, os grandes destaques são os bimotores Beechcraft King Air e os monomotores Cessna Grand Caravan e Pilatus PC-12. Já entre os modelos mais simples, a pistão, temos os bimotores Piper Seneca e Beech Baron, além dos monomotores Cessna C-210 e C-206. Dos modelos de helicóptero, temos uma pequena dominância da linha Helibras/Airbus, em especial os Esquilos, os A109 da Agusta/Leonardo, e a linha Bell na operação convencional; e para a atividade offshore, os Sikorsky S-76 e S-92 e Agusta/Leonardo A139 e A169.
Transporte Moderno – Quais as perspectivas do setor para 2021?
Flávio Pires – Esperamos que a aviação geral possa continuar em processo de recuperação gradativa de suas operações para atingir e superar os níveis pré-pandemia. Ressaltamos também as ações do programa governamental “Voo Simples”, que devem fomentar o setor por meio da simplificação, desburocratização e se aproximando de normas internacionais da aviação; além dos novos modelos de negócios que poderão surgir com a liberação da venda por assento pelas empresas de táxi aéreo.
Transporte Moderno – Em termos de infraestrutura, há perspectivas de melhora para o país?
Flávio Pires – Existem perspectivas de melhora na infraestrutura, principalmente aeroportuária, com as concessões dos aeroportos brasileiros para a iniciativa privada e os investimentos governamentais em melhorias de aeroportos para uso da aviação regional e geral.