Transporte Moderno – Quais os impactos da pandemia no roubo de cargas? Que tipo de carga foi mais visada?
Cyro Buonavoglia – O setor de transportes, assim como todos os outros, foi afetado pela pandemia. Em abril, por exemplo, de acordo com levantamento da NTC&Logística, a demanda chegou a cair pela metade e 91% das empresas perderam o faturamento. Alguns segmentos foram inicialmente mais impactados que outros. Nos segmentos de produtos essenciais, ligados à alimentação, produtos de limpeza e cuidados com a saúde, os impactos foram menores.
Porém, a partir de julho, o mercado já começou a sentir o aumento de demanda em função da retomada das atividades, como aberturas de shoppings, restaurantes, entre outras. Para termos uma ideia, a demanda por transportes rodoviários de cargas no Brasil registrou, em julho, uma recuperação de 51%, se compararmos com os momentos mais críticos, desde o início da pandemia.
Em relação ao roubo de cargas, de acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), no Rio de Janeiro, o roubo de cargas teve redução de 46%, em março deste ano, em comparação com o mesmo mês de 2019. Em São Paulo, houve redução, medida pela Secretaria de Segurança Pública. Entre 20 de março e 7 de abril, por exemplo, houve diminuição de 31%, comparando o mesmo período do ano passado.
Inclusive, a redução de crimes contra o patrimônio, de uma forma geral, durante a pandemia, foi global. Segundo levantamento do jornal O Estado de S.Paulo, entre 15 e 21 de março, as quedas foram de 13%, em Chicago, a 42%, em São Francisco, nos Estados Unidos.
Sobre mercadorias roubadas, tivemos uma característica muito peculiar na quarentena: uma maior urgência em transportar mercadorias dos armazéns até o destino final. Com isso, as cargas ficaram mais vulneráveis à ação de quadrilhas especializadas em roubos de cargas. Dessa forma, alguns itens tornaram-se mais visados, exigindo mais atenção de embarcadores e transportadores e, consequentemente, das gerenciadoras de riscos.
Transporte Moderno – E nos acidentes?
Cyro Buonavoglia – Com a diminuição da demanda e com o isolamento social, o número de acidentes caiu também. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, o número de acidentes registrados em março e abril nas estradas federais caiu 28% e, no caso de acidentes graves, a queda foi de 23%, em comparação com o mesmo período de 2019. O número de mortes também caiu em 7% em todo o Brasil.
Porém, em julho os números voltaram a subir para níveis pré quarentena, em função da retomada da produção industrial e da abertura de diversos setores da economia; no Estado de São Paulo, por exemplo, a Secretaria de Logística e Transportes, entre junho e julho de 2020, os acidentes deixaram 4 mil pessoas feridas, o que é muito preocupante e faz com que as empresas voltem a investir em segurança e prevenção.
De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, o número de acidentes e mortes no trânsito caiu durante a quarentena em São Paulo. A queda foi a maior já registrada desde 2015, no período de 24 de março a 30 de junho. No estado de São Paulo, o número de acidentes de trânsito foi de 35,6 mil em 2020, queda de 30% em relação aos 51,3 mil registrados no mesmo período de 2019. Já o número de mortes caiu 22%, sendo 1.167 em 2020 e 1.513 em 2019.
Transporte Moderno – Como tem sido 2020 para o segmento de rastreamento de veículos e cargas? Houve crescimento, apesar da crise?
Cyro Buonavoglia – O ano de 2020 tem sido atípico para todos os segmentos, no mundo inteiro. Todos os planos que as empresas tinham, precisaram ser readaptados em tempo recorde, o que demonstra que, principalmente no segmento de transportes, a agilidade é fundamental.
Essa mudança, em função da pandemia, fez com que todos nós trouxéssemos soluções para contribuir com os clientes; além disso, as vendas por internet cresceram muito durante a quarentena, já que as pessoas mudaram seus hábitos de consumo.
Alguns setores também estão sendo a “bola da vez”, como o agronegócio, o que traz oportunidades de negócios para todos que atuam no segmento de transporte de cargas.
Além disso, a tecnologia está conectando, cada vez mais, transportadores, embarcadores e motoristas, ou seja, vários aplicativos surgiram e se fortaleceram nesse período, facilitando a vida de todos os envolvidos.
Transporte Moderno – E especificamente para a Buonny?
Cyro Buonavoglia – Na Buonny, tivemos uma queda de cerca de 30% nas solicitações de monitoramento – o que representa uma queda de viagens monitoradas – quando comparamos os meses de março a agosto de 2019 e o mesmo período deste ano.
Os sinistros, no mesmo período de comparação, apresentaram uma redução de 66%. Com base em indicadores de performance próprios, a qualidade do serviço prestado pela Buonny, tanto em 2019 quanto em 2020, permanece igual, apesar da pandemia do novo Coronavírus.
Transporte Moderno – Quais as maiores tendências no mercado de rastreamento de cargas e monitoramento de veículos?
Cyro Buonavoglia – Desde o ano passado, já vínhamos observando o processo da digitalização da cadeia de suprimentos na dinâmica que se denominou “Logística 4.0”, mas neste ano de 2020 a pandemia Covid-19 acelerou esse processo em diversas frentes.
O aumento expressivo nas vendas on-line e serviços de entrega aceleraram a transformação digital na chamada logística de última milha, impondo a necessidade de maior e melhor monitoramento on-line e controle da movimentação de veículos, pessoas, cargas e pacotes. Mas os desafios não ocorrem apenas na ponta final da entrega, e sim em toda a cadeia logística.
Ocorreram dificuldades de suprimentos e expressiva redução da atividade econômica em diversos setores da economia, obrigando as empresas a otimizarem seus processos logísticos e reduzirem custos por meio de melhor controle operacional e gestão dos estoques físicos e em trânsito.
Mesmo nos setores da economia tais como na área de saúde, alimentação e produtos de higiene, que passaram e ainda passam por aumentos expressivos nas demandas e aceleração das atividades, os desafios da logística demandam mais controle e monitoramento da movimentação de veículos e cargas.
A Logística 4.0 está fortemente baseada na inovação tecnológica, em especial na Internet das Coisas, a partir da miniaturização de sensores e localizadores e do lançamento de novas redes de telecomunicações, o que viabiliza novos patamares de serviços de localização e monitoramento de veículos, pessoas, cargas, objetos, animais e processos.
Transporte Moderno – Quais as novidades da Buonny para o mercado?
Cyro Buonavoglia – Temos forte tradição tecnológica e inovadora e sempre fomos pioneiros no desenvolvimento de ferramentas avançadas para melhorar a inovar na prestação de serviços aos nossos clientes.
Estamos trabalhando fortemente em nossa transformação digital, tanto nos processos e sistemas internos, como também nos serviços e tecnologias que disponibilizamos para nossos clientes. Entre os exemplos das tecnologias que fazem parte da Buonny estão a inteligência artificial, machine learning, internet das coisas e também o sistema de reconhecimento facial, desenvolvido pela equipe Buonny e implementado no Teleconsult, cadastro positivo de motoristas. Com a tecnologia, já evitamos centenas de clonagens e identificamos dezenas de clonadores (meliantes que se passam por motoristas idôneos para roubar as cargas).