A Mercedes-Benz começa a entregar em junho o novo Actros, após retomar a produção na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) dia 11 de maio. Com a pandemia do coronavírus, a empresa teve que interromper a produção do caminhão extrapesado, adiando a entrega que estava programada para abril, por ter que suspender as atividades no dia 23 de março para cumprir o isolamento social e evitar a propagação da doença no país.
O novo caminhão extrapesado começou a ser vendido em outubro do ano passado na Fenatran e a Mercedes-Benz já tem em torno de 530 unidades comercializadas no país, dos quais 10% são modelos com MirrorCam, exclusivo sistema que substitui os retrovisores convencionais por câmeras digitais, grande novidade tecnológica que a empresa trouxe para o mercado brasileiro. “Estamos tranquilos com a retomada de produção do novo Actros devido à maior estabilidade que temos hoje na linha de montagem, após o investimento para torná-la com padrão de indústria 4.0”, afirma Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas e marketing caminhões e ônibus da Mercedes-Benz do Brasil.
O novo Actros está equipado com avançado sistema tecnológico de segurança ativa que evita acidentes, como os assistentes ativo de frenagem (ABA 5), ponto cego, fadiga e programa eletrônico de estabilidade ESP. Tem ainda o controle de proximidade e assistente de faixa de rolagem. Todos esses itens são de série nesse modelo.
O desafio de retomar a produção em meio a essa pandemia, segundo Leoncini, é ter toda a cadeia de fornecedores trabalhando no mesmo ritmo, além de preservar a saúde das pessoas e enfrentar os desencontros de informações. “Faz parte do novo normal essa falta de planejamento que a gente vê hoje no país, mas voltamos a produzir os veículos porque temos entregas agendadas e compromisso com a exportação”, afirma.
Para recuperar os volumes que serão afetados neste início de volta às atividades, a Mercedes-Benz reprogramou a produção de caminhões. “Estamos produzindo basicamente o que tínhamos em contrato, priorizando os pedidos em carteira, mas esperamos recuperar o volume paulatinamente. Todo dia é um novo dia, porque a gente não sabe o que acontece no dia seguinte”, acrescenta Leoncini.
Mesmo com caminhões estocados na fábrica e na rede de concessionários, Leoncini admite que possa ocorrer alongamento na entrega de alguns veículos. “O estoque que temos de modelos leves e semipesados, que têm menor volume de pedidos, pode minimizar o impacto no fornecimento”, espera o executivo.
Com o aumento no custo, impactado pela importação de peças por causa da elevação do dólar, a Mercedes-Benz vai reajustar os preços dos seus veículos a partir de 1º de julho. “Ainda estamos fazendo as contas para definir qual será o percentual de aumento dos caminhões e dos ônibus”, diz Leoncini.
A fábrica de São Bernardo do Campo voltou a trabalhar com 50% dos empregados na linha de montagem para conseguir preservar o distanciamento e a saúde das pessoas. “Tínhamos que ter controle sobre o que estava acontecendo na empresa. Montamos um ambulatório de campanha e estamos medindo a temperatura de todos que chegam à fábrica”, comenta Leoncini. No armazém em Campinas (SP) e na central de atendimento 24 horas trabalham uma parte da equipe. O restante, área de vendas e administrativa, estão em home office.
O novo Actros está sendo testado por quatro empresas que atuam no agronegócio – Martelli, Lontano, Botuverá, Transoeste – de Rondonópolis, que fica a 210 quilômetros de Cuiabá (MT), e os resultados têm sido bastante positivos, segundo Leoncini.
Equipado com o sistema Uptime, o novo Actros teve, durante os testes, 33% menos parada para manutenção e o consumo de combustível foi de 3% a 7% melhor que os concorrentes. “O caminhão vem mostrando muito mais do que o prometido e o consumo surpreendendo positivamente”, relata Adelino Bissoni, dono da Transportes Botuverá, grupo que atua no segmento de agro, com a produção de soja e milho, além de realizar a distribuição dos produtos. “Estou confiante que 2020 será um ano bom, pois a safra de soja está grande. A de milho, que está iniciando a colheita, também está boa”, conta o dono da Botuverá.
“Acredito que a agricultura, novamente, vai impulsionar o crescimento do país. Por isso, temos planos de comprar mais 10 caminhões no segundo semestre para colocar na frota e continuar crescendo”, diz o empresário.
Na área agrícola os planos do empresário são de ampliar em 5% a área de plantio para aumentar a produção na próxima safra. “Estamos confiantes, pois sempre acreditamos na força do trabalho”, diz Bissoni.
MERCADO
Diante da expectativa de decolagem firme do Brasil, com todos os indicadores apontando para uma economia maior, a estimativa da Mercedes-Benz era de que o mercado de caminhões terminasse 2020 com 120 mil veículos vendidos. “Embora não seja um número ideal ao se comparar com o tamanho da frota, mas era positivo, pois mostrava um sinal de recuperação”, diz Leoncini.
Ele recorda que o país contava com bons ventos vindos do campo, do consumo das famílias, além da expectativa de crescimento consistente do PIB. “Mas em março fomos pegos de surpresa e mesmo vendo o que estava acontecendo emoutros países não esperávamos que a velocidade da contaminação do coronavírus fosse atingir níveis tão altos”, comenta Leoncini.
Com o impacto da crise sanitária, o mercado de caminhões, que vinha registrando a venda de 9.000 veículos mensais recuou para 6.438 unidades em março, atingindo 3.952 unidades em abril, uma queda de 56%, segundo a Anfavea (Associação que representa as montadoras).
A Mercedes-Benz, que é líder de mercado, teve uma redução de 39% nas suas vendas, de 1.931 veículos em março para 1.180 unidades em abril. “Agora vamos ver qual será o resultado de maio, com o retorno parcial dos Detrans, pois mesmo com a decisão do governo de liberar o caminhão para rodar sem o emplacamento, muitos motoristas não circularam com o veículo sem placa para não perder o seguro”, conta Leoncini.
A estimativa de Leoncini é que o Brasil alcance em 2020 novos patamares de venda. “Mas ainda há dúvida sobre qual será o tamanho do mercado de caminhões, diante dessa pandemia que estamos passando.”. Ele conta que a área de inteligência da Mercedes-Benz vem conversando com vários clientes e buscando indicadores para tentar entender como se comportará o mercado.
No momento o Brasil está passando por três crises, segundo Leoncini. A sanitária, econômica e política, que atrapalha a tomada de decisão em qualquer segmento. “Com toda essa tempestade perfeita fica difícil imaginar o que vai acontecer no mercado pós-pandemia.”
Leoncini comenta que a cada dia tem que fazer exercícios para reprogramar a produção, tomar decisões e fazer cenários. “Fica difícil responder para a matriz qual será o tamanho do mercado de caminhões, ônibus e vans este ano. Vamos ganhando um dia depois do outro.”
Apesar dessa pandemia, o Brasil ainda tem segmento que está mais ativo do que antes. “O farmacêutico está rodando bastante e comprando caminhões, o de alimentos e bebidas também segue forte, com os transportadores abastecendo supermercados e grandes atacados. O de celulose e químico está com demanda de exportação, além do agronegócio, que será o destaque do país por causa da China que está repondo os estoques”, informa Leoncini. “Todo dia temos que olhar para o mercado e estar próximo de cada segmento, pois no meio desta pandemia vendemos caminhões de lixo e betoneira para a construção.”
Na avaliação de Leoncini, o Brasil terá que fazer vários movimentos para impulsionar a retomada da economia e isso vai afetar positivamente a indústria de caminhões, os transportadores e os operadores logísticos. “Só esperamos que haja um pouco mais de planejamento nesta retomada.”