A expectativa de avanço das exportações de veículos comerciais, com a alta cotação do dólar, começa a ser revista elas montadoras diante da explosão da pandemia do coronavírus em todo o mundo.
O segmento de ônibus, que buscava outros mercados para superar a queda da Argentina e a instabilidade econômica dos países da América Latina, na tentativa de reverter a queda de 33,7% nas vendas internacionais no primeiro bimestre de 2020, enfrenta agora um cenário ainda mais desafiador, com a restrição em alguns portos no exterior para tentar controlar a disseminação da doença.
A Mercedes-Benz, que no primeiro bimestre aumentou em 44% as exportações de ônibus, com o embarque de 560 veículos, ante as 388 unidades exportadas no mesmo período de 2019, já projeta uma retração e afirma não ser possível estimar qual será o volume de veículos vendidos este ano no exterior.
Na América do Sul, a empresa obteve melhores resultados nas exportações no primeiro bimestre com vendas ao Chile, Peru e até mesmo para a Argentina, que comprou 452 ônibus, enquanto no mesmo período do ano passado foram exportados 39 veículos ao país.
Atualmente, o modelo de ônibus mais exportado da Mercedes-Benz é o OF 1621.
Neste ano, já foram vendidos mais de 160 unidades deste veículo à Argentina, segundo Sergio Magalhães, diretor-geral de ônibus Mercedes-Benz América Latina.
Fora a América do Sul, a Mercedes-Benz exporta os seus ônibus para o México, Egito e a Indonésia, onde está presente há cinco anos e tem 43% de participação no mercado de ônibus.
Para a Indonésia, um dos principais países do Sudeste Asiático e um dos mais populosos do mundo, a empresa exportou no ano passado 1.026 chassisde ônibus – 762 unidades do modelo OH 1626, 180 da versão OH 1626, ambos para aplicação urbana, e 84 modelos O500 RS, que geralmente são utilizados para operações rodoviárias. “Mas isso é definido pelo comprador, quando o chassi chega ao país”, esclarece o diretor da Mercedes-Benz. “Temos a possibilidade de exportar chassis de ônibus flexíveis para diferentes aplicações, como acontece no Brasil. Chegando lá, o encarroçador define se o ônibus será urbano ou rodoviário.”
Segundo Alexandre Lasmar, gerente de vendas e exportações para o Oriente Médio e norte da África da Mercedes-Benz do Brasil, o ônibus OH 1626 se tornou popular na Indonésia especialmente nos corredores do sistema BRT (Bus Rapid Transit) e em linhas alimentadoras na capital Jacarta.
O gerente informa que o mercado total de ônibus na Indonésia se aproxima de 2.500 unidades ao ano. “A Mercedes-Benz do Brasil responde por cerca de 70% das vendas anuais da marca na Indonésia, com o restante comercializado pela Daimler Commercial Vehicles Indonésia e pela EvoBus, empresas do grupo Daimler”, afirma Lasmar.
Segundo Lasmar, 12 empresas encarroçadoras trabalham em parceria com a Daimler no país. Os clientes adquirem os chassis pelo concessionário da marca e encarroçam os produtos na implementadora de sua escolha.
Um dos principais clientes locais, a Transjakarta, operador de transporte público, tem 500 ônibus Mercedes-Benz em sua frota de 1.500 ônibus urbanos.
“E este não é o único cliente com grande volume de ônibus da Mercedes-Benz.
Outros operadores do segmento rodoviário chegam a ter 100% de sua frota com veículos da marca”, garante Lasmar.
Em todo o ano de 2019, a Mercedes-Benz exportou 3.901 ônibus que foram negociados em países como Argentina, Chile, Peru, Equador, México e Egito. “Há ônibus que são montados aqui pelas encarroçadoras brasileiras e depois são enviados e temos também encarroçadoras parceiras nos países de destino de nossos ônibus, onde os chassis serão montados e finalizados”, esclarece Magalhães.
O diretor da Mercedes-Benz comenta que 2019 foi um ano atípico para o segmento, pois muitos de nossos clientes resolveram antecipar suas compras, montando um estoque local. “Para 2020, é preciso ter cautela com as previsões, diante da situação crítica do coronavírus pela qual passa todo o mundo.”
Scania – A Scania, que historicamente tem boa participação nos mercados em que atua na América Latina, iniciou o ano com boas perspectivas e anotou no primeiro bimestre um crescimento de 28% nas vendas de ônibus para os países da região, na comparação com o mesmo período de 2019.
Para 2020, a empresa não faz previsão. Os seus ônibus fabricados no Brasil foram vendidos para a Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Peru e Uruguai. Além dos modelos rodoviários, a empresa teve forte expansão das exportações por conta das vendas para os sistemas de transporte urbano, como o Transmilênio, na Colômbia, e o Transantiago, no Chile. “Esses resultados se devem à gama de produtos que oferecemos aos nossos clientes, com soluções sustentáveis, como o ônibus a gás e com motores Euro 6”, afirma André Rodrigues de Oliveira, gerente de vendas e marketing de ônibus da Scania América Latina.
Do total de ônibus que a Scania exportou no primeiro bimestre deste ano, dois terço dos chassis rodoviários têm uma parte equipados com motores Scania diesel de nove litros de cinco cilindros, com 250 cv ou 310 cv de potência; e outra parte são equipados com motores diesel Scania de 13 litros e seis cilindros, Euro 3 ou Euro 5 com potências entre os 360 cv e 460 cv.
Dos ônibus exportados, uma parte é implementada pelos encarroçadores brasileiros e outra parte segue como chassis para ser implementada pelos encarroçadores no país destino. “Além do Brasil, Argentina, Colômbia, Equador e Peru também contam com uma indústria local de encarroçadores bastante desenvolvida”, esclarece o gerente da Scania.
Em 2019, a fábrica da Scania Latin America, em São Bernardo do Campo (SP), exportou 2.152 ônibus, um crescimento de 20% em relação ao ano anterior.
Para os mercados da América Latina, o crescimento foi de 25%, impulsionado pelos sistemas Transantiago do Chile e Transmilênio da Colômbia.
Na América Latina os ônibus foram enviados para a Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, Panamá, Paraguai, Peru, Paraguai e Uruguai. Os veículos estão equipados com motores diesel Scania de nove litros, cinco cilindros, de 250 cv e 310 cv de potência; de 13 litros, seis cilindros, de 360 cv a 460 cv de potência para as normas de emissões Euro 3 e Euro 5; motores de nove litros, cinco cilindros de 280 e 340 cv de potência, e GNV (gásnatural veicular) para a norma de emissão Euro 6. “A fábrica em São Bernardo do Campo tem capacidade e está preparada para exportar para mais de 30 países ao redor do mundo, além da América Latina para a Ásia e África”, diz Oliveira.
A Scania não defi ne as suas estratégias de exportações com base na cotação do dólar, que atualmente está muito valorizado em relação do real. O gerente da empresa comenta que a América Latina é tradicionalmente atendida pela fábrica e São Bernardo do Campo, devido à sua localidade e às relações comerciais. “No entanto, a empresa se ajusta aos mercados em que atua, escolhendo a melhor opção para produzir seus veículos graças ao sistema global de produção que nos permite fabricar o mesmo veículo em qualquer unidade ao redor do mundo, nos possibilitando também adequar os níveis de produção em nossas fábricas, levando em consideração aspectos que analisam diversos cenários e demandas, sem que prejudique o resultado da companhia.” Segundo o gerente, a Scania tem apostado no crescimento de dois importantes mercados na América Latina, o Chile e a Colômbia, pois ambos são impulsionados pelas licitações públicas para aquisição de ônibus urbanos em seus sistemas públicos de transporte, como o Transantiago e Transmilênio, respectivamente.
“De maneira geral, os ônibus mais vendidos ainda são para aplicações rodoviárias com configuração de rodas 4×2, 6×2 e 6×2*4, equipados com motores diesel Scania de nove ou 13 litros e potências entre os 250 cv e 460 cv. Todavia, devido ao sucesso nas vendas de chassis urbanos para o sistema BRT da cidade de Bogotá, o Transmilênio, ao longo do ano passado, dois de nossos modelos de chassis urbanos foram responsáveis pelos bons resultados obtidos nas exportações no período. São eles: o K280 B4x2, equipado com motor Scania de nove litros, cinco cilindros, GNV de 280 cv, e o F340 HA 8×2, equipado com motor Scania de nove 9 litros, cinco cilindros, GNV, de 340 cv”, detalha Oliveira.