Inaugurada em outubro de 2018, a ponte de 55 km que liga Hong Kong, Macau e Zhuhai custou US$ 20 bilhões e utilizou 400 mil toneladas de aço
A maior ponte marítima de aço do mundo, que liga Hong Kong, Macau e Zhuhai – as três principais cidades no estuário do rio das Pérolas, no sudeste da China – foi inaugurada em 23 de outubro 2018, após nove de execução, dois anos além do previsto inicialmente. As obras foram executadas pelo governo central da China e por Hong Kong, a um custo de US$ 20 bilhões. Apesar do atraso de dois anos e das críticas relativas a questões ambientais e a denúncias de corrupção, a entrega oficial da ponte ao público é uma façanha e tanto, já que a execução da obra toda demorou apenas sete anos e envolveu um impressionante projeto de engenharia. Não é qualquer país que consegue realizar uma obra de tanta complexidade no mar em um espaço de tempo tão curto. A China tem atualmente diversos megaprojetos em vista, como a ponte que liga o país a Taiwan, na costa oriental. O governo chinês também planeja estimular a migração de 250 milhões de pessoas das áreas rurais para as megacidades do país e tem investido dezenas de bilhões de dólares em gigantescos projetos de infraestrutura.
Composta por três pontes estaiadas suspensas e em um túnel submerso de 6,7 km para o escoamento do tráfego de veículos entre duas ilhas artificiais, a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau tem 55 quilômetros de extensão total, incluindo os acessos terrestres, e seis faixas de rodagem. Algumas seções são ligeiramente inclinadas.
A estrutura central, concluída em maio de 2017 tem 29,6 quilômetros, incluindo 22,9 quilômetros da seção de ponte e 6,7 quilômetros de túnel submarino. Além do túnel submerso, há ainda três túneis terrestres e quatro pequenas ilhas artificiais de sustentação da estrutura.
Como diversas outras pontes do mundo, as três pontes têm suas passagens marítimas, mas os navios muito grandes vão passar pelo trecho sobre o túnel debaixo d’água. Considerara uma “maravilha de engenharia”, a ponte é feita com 400 mil toneladas de aço, o sufi ciente para construir 60 torres Eiffel. A ideia da construção de um sistema de ponte-túnel na região surgiu na década de 1980, mas só foi levada adiante após longos entendimentos entre os governos da China e de Hong Kong, sobre viabilidade econômica e ambiental do projeto. Decidiu-se que cerca de 60% dos custos da obra seriam bancados pelo governo chinês, a maior parte do valor total financiada por um consórcio de bancos liderado pelo Banco da China.
Projetada para resistir a terremotos e tufões, estes comuns entre junho e novembro na região, a ponte exigiu obras de engenharia inovadoras na boca do estuário adjacente ao Mar do Sul da China. Seu objetivo é integrar Hong Kong não apenas com Zhuhai e Macau, mas também com outras nove cidades do sudeste da China, na bacia do estuário do rio das Pérolas, uma região habitada por 68 milhões de pessoas, para formar a chamada Área da Grande Baía, nos moldes de Nova York, São Francisco e Tóquio. Na cerimônia de inauguração as autoridades chinesas disseram que a nova ponte criará um mercado único com forças em infraestrutura, finanças, manufatura e tecnologia. Afirmaram ainda que criará um ambiente ideal para a vida com a interação entre os residentes da região porque Zhuhai, Hong Kong e Macau estarão ao alcance em menos de uma hora uma das outras e ajudará a levar adiante a visão da Área da Grande Baía, com o benefício da competitividade conjunta das três cidades.
Zhuhai, cidade vizinha de Macau e um vilarejo de alguns milhares de pessoas em meados do século 20, era uma das quatro primeiras Zonas Econômicas Especiais criadas na década de 1980 com a abertura da economia chinesa. Hoje possui 1,5 milhão de habitantes e é um centro de indústria pesada e de alta tecnologia, além de ser um destino turístico chinês de destaque, conhecido como a Riviera Chinesa. Encontram-se na cidade quase 20 das 500 maiores empresas do mundo, como a ExxonMobil, BP, Siemens, Carrefour e Matsushita. A região toda registrou nos últimos anos renda per capital crescente e consequente aumento de gastos dos consumidores, bem como o acelerado desenvolvimento industrial. Por isso, a importância da nova infraestrutura de transporte, que vai fortalecer mais a economia e indústria regionais. Para Hong Kong, aponte serve para estimular mais residentes da região a visitar esta cidade e a fazer compras ali, dando novo empurrão à economia local.
Como Hong Kong desfruta de muitas vantagens competitivas no desenvolvimento de seu setor logístico, notadamente excelentes infraestrutura e instalações de telecomunicação, e sistemas financeiros e legais consolidados, boas conexões internacionais e um mercado livre, a nova ligação para o oeste da província de Guangdong atrairá mais negócios para a cidade e estenderá seus serviços para o interior da China.
Para circular na ponte, além de pagar pedágio, os motoristas de carros precisam obter uma autorização especial. Ela não é servida pelo transporte público, e todos os ônibus são de empresas particulares.
A travessia de carro demora cerca de 45 minutos, devido ao limite de velocidade.
Também é muito vigiada para evitar acidentes ou atentados, com 48 câmeras de alta resolução instaladas para captar todos os detalhes. O sistema de vigilância desta ponte pode até contar quantos bocejos um motorista de ônibus deu no volante, e emite um alarme se ele bocejar pela terceira vez. A ponte também é vigiada por patrulhas policiais antiterrorismo. Como os motoristas de Hong Kong e Macau dirigem à “mão inglesa” e a China adota a direção oposta, existem áreas de mudança de direção para os motoristas.
A ponte custou caro em termos humanos, com nove mortes do lado de Zhuhai e nove mortes do lado de Hong Kong, além de centenas de trabalhadores feridos.
Grupos ambientais também criticaram duramente a obra, que teria reduzido drasticamente o número de golfinhos brancos típicos daquela região da costa chinesa.
As autoridades estimaram que cerca 9.200 mil veículos utilizem inicialmente a ponte todos os dias, incluindo ônibus operando a intervalos de dez minutos, o que ainda não aconteceu nos primeiros meses de uso. Pedestres e ciclistas não podem circular pela via, que foi projetada apenas para carros. Não há linha férrea na ponte. A previsão de vida útil da nova ponte é de 120 anos. A obra foi considerada pelos principais cientistas e engenheiros do país o maior avanço de engenharia no ano passado. A China também conta com a segunda ponte marítima mais extensa do mundo, com 42 quilômetros de comprimento, na região da cidade de Qingdao, na costa leste.