De volta ao compasso de espera, mas sem pessimismo

Empresas do setor fizeram investimentos no último ano, mas ainda sofrem com as incertezas políticas na avaliação de representantes das principais entidades   Lideranças do setor de fretamento e de turismo diziam no início de 2018 que havia sinais de certa retomada dos negócios. Avaliavam tratar-se de um movimento tênue, mas, de todo modo, alentador, […]

Empresas do setor fizeram investimentos no último ano, mas ainda sofrem com as incertezas políticas na avaliação de representantes das principais entidades

 

Lideranças do setor de fretamento e de turismo diziam no início de 2018 que havia sinais de certa retomada dos negócios.

Avaliavam tratar-se de um movimento tênue, mas, de todo modo, alentador, após um longo período de “estiagem”.

Agora, na metade do ano, depois de constado o arrefecimento do ímpeto do crescimento econômico brasileiro, os principais atores do segmento parecem voltar ao compasso de espera. Mas, justiça seja feita, sem pessimismo.

A diretora executiva da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento do Estado de São Paulo

(Fresp), Regina Rocha, afirmou que em 2017 o segmento de fretamento havia sentido resquícios da crise dos anos anteriores,

mas que já estava sendo possível, naquele momento, observar certa retomada.

Disse que ao longo do período de recessão – sobretudo, os anos de 2015 e 2016 –, as empresas agiram com cautela, mas não

deixaram de investir, inclusive em veículos modernos, com tecnologia de ponta, para qualificar ainda mais o serviço e consolidar e ampliar o mercado.

Regina Rocha lembrou que o setor de transportes como um todo cresceu em 2017, impulsionado pelo rodoviário – incluído

o segmento de fretamento –, tendo sido o primeiro setor da economia a fechar um ano positivo desde 2014.

E sublinhou que houve aumento de viagens corporativas e que o setor de fretamento contribui significativamente para os resultados observados na produção e vendas de ônibus.

A dirigente considerou 2017 um ano de retomada de mercado e, principalmente, um período voltado para o estreitamento do relacionamento com os clientes ativos. E assinalou que o cenário de leve reaquecimento da economia trazia perspectivas

otimistas para 2018.

Contudo, os números da economia neste ano estão revelando um quadro menos positivo do que o originalmente esperado.

Indagada sobre se isso modificaria algo na projeção que o setor faz para o ano e se a indefinição do quadro político atrapalharia

uma retomada mais firme, ela foi bastante positiva: “No Estado de São Paulo as empresas estão bastante reticentes neste ano. Havia uma expectativa de retomada do crescimento, que foi prejudicada pelo cenário político atual.

Ainda tivemos Copa do Mundo da Rússia, e em breve teremos eleições… Uma série de eventos alheios à nossa vontade e que impactam diretamente na economia brasileira. Mesmo no fretamento eventual, sentimos o brasileiro mais receoso, poupando e evitando gastos desnecessários, incluindo viagens de turismo. Mas a expectativa é que após as eleições, com o cenário político

mais definido, o país retome o crescimento.

Com o Brasil crescendo, o setor de fretamento também retoma seu crescimento rapidamente.”

A dirigente aprofunda a sua análise: “A indefinição política que vivemos atualmente se reflete no crescimento do país como

um todo. E, claro, o setor de fretamento acaba sendo impactado negativamente. O foco principal do setor é o fretamento contínuo, ou seja, o transporte dos trabalhadores.

E se a indústria não tem um bom desempenho, como consequência, nossa demanda diminui.”

Ela acrescenta que a incerteza também

trouxe antecipação de investimentos.

“Houve algum investimento em renovação de frota em virtude dos aumentos sucessivos

do dólar, da instabilidade política e

também da possibilidade de os veículos sofrerem

reajustes significativos nos preços.

Neste cenário, alguns empresários anteciparam parte dos investimentos em renovação de frota previstos para o segundo semestre do ano.”

No início de 2018, Martinho Ferreira Moura, presidente da Associação Nacional dos Transportadores de Turismo e Fretamento

(ANTTUR) e da empresa Bel-Tour Fretamento e Transporte disse ter percebido sinais de recuperação, ainda que lenta.

Ele falava em certo avanço na indústria e mesmo no setor de serviços. E explicava que os grandes clientes, que haviam reduzido

drasticamente seus contratos devido à queda na atividade industrial, haviam retomado a contratação de funcionários e a

ampliação de turnos, acrescentando que os segmentos de serviços, como empresas de telemarketing e bancos, e também os

órgãos governamentais exibiam movimento positivo.

Ouvido em julho de 2018, Martinho não mudou a essência de seu diagnóstico, rejeitando a ideia de que tenha havido uma

piora. “Olha, eu creio que o quadro se mantém basicamente o mesmo. Não melhorou, mas não piorou. Como disse no início

do ano, a situação era melhor do que nos anos anteriores e vai se mantendo”, afirmou, fazendo questão de ressalvar que

esse entendimento considera o país como um todo, sendo possível que alguma realidade

regional apresente eventualmente características diferentes. “O Brasil é um país continental, então o que acontece em

São Paulo pode ser um pouquinho diferente do Rio Grande do Sul, um pouquinho diferente do Espírito Santo. Seria preciso um

levantamento localizado em cada região do país para identificar uma situação diferente. Mas não há indícios de que isso

esteja ocorrendo”, afirma.

INCERTEZAS POLÍTICAS – Sobre se haveria a influência do quadro político-eleitoral na situação econômica, Martinho

Ferreira Moura foi assertivo: “Sem dúvida! E eu acredito que o fato de não termos avançado mais na recuperação da economia

pode ser atribuído a essa insegurança, a toda essa situação de indefinição política.

Vivemos um quadro de incerteza e, dessa forma, os investimentos andam suspensos.”

Regina Rocha avalia a compreensão que as lideranças políticas têm a respeito do papel da mobilidade urbana para

o desempenho e o desenvolvimento econômico.

“O foco dos líderes políticos não está na mobilidade urbana. Há pouco investimento em infraestrutura urbana, tanto

para transporte de pessoas como para o escoamento da produção de riquezas de modo geral. A greve dos caminhoneiros,

que aconteceu em maio deste ano, é um bom exemplo de como o sistema de transporte brasileiro é frágil. Os caminhoneiros

pararam e, como consequência, o país parou, porque não chegavam insumos, matérias-primas nas indústrias, produtos nas

prateleiras e, claro, o combustível para os veículos continuarem rodando. O fretamento também sofreu. Não só pela falta

de combustível, mas também porque muitas indústrias pararam ou diminuíram suas atividades, ou seja, durante algum

tempo houve menos colaboradores para serem transportados.”

A dirigente da Fresp destaca que sua entidade tem se esforçado para levar aos dirigentes políticos informações que possam

ter uma melhor compreensão do papel do setor. “Há mais de uma década, a Fresp vem estreitando laços com a Associação

Nacional de Transportes Públicos (ANTP), que reúne líderes ligados ao poder executivo. O objetivo principal desta

aproximação é mostrar as necessidades do setor e como ele pode contribuir para a mobilidade urbana. Porque essa não é

apenas uma obrigação de cada cidade, é uma equação mais completa, que envolve diversos setores.

A Fresp também realiza um trabalho de envio constante de informações e notícias sobre o fretamento e a

mobilidade urbana para políticos e gestores públicos.”

SOBRE A LAT.BUS – Este ano acontecerá a primeira edição da nova feira Lat.Bus, que busca atrair expositores e visitantes internacionais, sobretudo da América Latina – empresários, dirigentes e formadores de opinião de diversos países.

Indagada sobre a importância de um setor como o de fretamento estreitar relacionamento com representantes de mercados

congêneres em países vizinhos, Regina Rocha mostrou-se favorável à iniciativa.

“Com certeza, se trata de um novo e importante polo de intercâmbio. Estreitar relacionamentos é essencial nos dias

atuais – para todos os setores. A feira certamente será um ponto de encontro, de networking. Acredito que será importante

para estabelecer um intercâmbio com os países participantes e, quem sabe, poder no futuro realizar uma visita técnica e

aprender mais sobre soluções que funcionam lá fora e ainda não estão disponíveis no Brasil.”

O site da Anttur vem divulgando a Feira Lat.Bus 2018 o que demonstra o apoio efetivo que a entidade concede ao evento.

O presidente Martinho Ferreira Moura destaca significado da realização de encontro como a Lat.Bus com a presença de

especialistas, empresários e dirigentes de outros países. “O mais importante é a troca de experiência. Trata-se de algo muito

positivo. É significativo que profissionais especializados e empresários tragam informações a respeito de atividades e experiências desenvolvidas em outros países.

E que, em contrapartida, conheçam o que estamos realizando no Brasil, em especial, o que estão produzindo as nossas montadoras, as descaroçadoras e todas essas empresas que trabalham como suporte para o transporte coletivo, entre as quais

as empresas de bilhetagem.”

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