Mesmo com a grande demanda pela moderna ferramenta, as empresas ainda enfrentam grandes desafios com a falta de infraestrutura viária, de segurança para conexão de dados e cobertura de sinal
A tecnologia tem avançado rapidamente nos caminhões, mas a falta de infraestrutura viária, de segurança para conexão de dados e cobertura de sinal ainda são os grandes desafios das empresas para que todos os sistemas estejam integrados e garantam a maior eficiência dos serviços no setor de transporte. Esses foram os pontos principais destacados pelos executivos das montadoras durante o Congresso SAE Brasil realizado em 2017.
“A tecnologia avançou rápido nos caminhões, mas a infraestrutura está aquém”, disse Érico Araujo Fernandes, gerente sênior de vendas e marketing de serviços e soluções integradas da Mercedes-Benz do Brasil. “Na maioria das cidades as vias não têm indicações de faixas e as placas de sinalizações muitas vezes estão escondidas atrás da árvore, o que dificulta a circulação de caminhões autônomos no país.”
Na avaliação de Fernandes a indústria ainda tem um longo caminho a trilhar para conseguir colocar o caminhão autônomo em operação no Brasil. Mas, enquanto os investimentos destinados à melhoria na infraestrutura não são efetivamente colocados em prática, a Mercedes-Benz tem trabalhado no aperfeiçoamento das suas ferramentas, principalmente do sistema de gestão de frota e rastreamento Fleet Board que agora tem nova funcionalidade, a Telediagnose, que identifica on-line eventuais falhas no caminhão durante a operação. “A Mercedes quer ir além do veículo, pois entende que o cliente tem que ter alta eficiência na sua gestão”, ressaltou o gerente.
A Scania também investe em sistema avançados e tem utilizado os seus caminhões conectados como fonte de informações, captando dados operacionais para melhorar a rentabilidade dos seus clientes. “A tecnologia vai dar condições de trabalhar na qualidade do produto e ajudar a desenvolver melhores soluções”, disse Eronildo Barros Santos, diretor de desenvolvimento de negócios da Scania do Brasil.
Como exemplo do avanço da tecnologia nos seus veículos e a aceitação pelos seus clientes, o diretor da Scania citou a caixa de câmbio automatizada, que está em sua quarta geração. “O primeiro modelo automático foi criado para trazer conforto e a quarta versão chegou para acrescentar a segurança e preservar os componentes do caminhão”, detalhou Santos.
A Scania tem atualmente cerca de 280 mil veículos conectados no mundo e 5.500 veículos no Brasil alimentando a empresa de informações e fornecendo dados operacionais. “Com base nessas informações abandonamos a forma tradicional de fazer manutenção e aumentamos o intervalo de quilometragem. Agora o veículo passa a dizer qual é o melhor momento para fazer a manutenção. E a performance do motorista tem ajudado na redução de custo, a baixar o consumo de combustível e reduzir o TCO (custo total de operação). Os desafios vão continuar nessa área, pois é preciso pensar no futuro”, afirmou Santos.
Para o diretor da Scania, a utilização do equipamento vai fazer a diferença. “A aceitação da tecnologia tem sido imediata. Hoje temos veículo falando com a montadora, com a concessionária, com o cliente e em breve vamos ter o veículo falando com o embarcador e com o outro veículo”, observou.
Na visão de Julio Steg, supervisor de custo total de propriedade da MAN Latin America, depois de um longo período com altos e baixos no mercado, a indústria de caminhões começa se recuperar e está em uma nova fase. “Olhando para o futuro existe uma clara tendência que estamos em direção a um novo patamar e a preocupação agora não é somente pensar no hardware (caminhão), mas nas soluções de software e serviços que podem trazer benefícios aos transportadores”, afirmou Steg.
O supervisor da MAN acrescentou que os veículos autônomos, a conectividade e o transporte limpo, que estão inseridos nas tendências globais, visam reduzir o custo total de operação dos caminhões. “A conectividade já é uma realidade no nosso negócio e vai trazer ferramentas para tornar mais efi ciente toda a cadeia, com a melhor gestão do serviço de transporte e melhor manutenção dos veículos. A telemetria está avançando e trará novas soluções de mobilidade e grandes chances de serviços diferenciados”, apontou Steg.
“No futuro, assim como as montadoras terão que se adaptar e ter mais profissionais focados em softwares, as transportadoras também precisarão cada vez mais se especializar para saber utilizar as modernas tecnologias”, disse Steg.
Na sua avaliação, a tecnologia visa ajudar na melhor utilização do veículo, com o compartilhamento de cargas e os serviços cada vez mais conectados. “Sabemos que ainda existe uma parcela significativa de viagens realizadas pelas transportadoras em que o caminhão sai parcialmente carregado e retorna vazio”, comentou Steg.
Para exemplificar como as novas soluções podem ser viáveis ao caminhão para aumentar a rentabilidade da operação de transporte, Oswaldo Ramos, gerente de marketing e vendas da Ford Caminhões, falou sobre o Cargo Connect que foi apresentado no ano passado na Fenatran. É um protótipo do caminhão da marca com vários sistemas de condução semiautônoma que traz muita tecnologia embarcada com foco na produtividade e na segurança. “A velocidade da absorção da tecnologia está sendo muito rápida. Por isso, essas ferramentas já estão equipando os caminhões mais baratos”, afirmou Ramos.
O gerente da Ford disse que o mercado de caminhões está mais maduro. “O consumidor está mais consciente que o veículo dele está envelhecendo, que o custo total está subindo e agora ele está fazendo as contas”, avaliou Ramos.