A inflação em queda, juros menores, aumento das exportações, melhora no índice de produtividade da indústria e o excesso de liquidez no mercado mundial são fatores que impulsionarão a economia brasileira
Depois de quatro anos mergulhado na mais profunda crise econômica da história, com expressiva queda na produção da indústria, alto índice de desemprego e Produto Interno Bruto (PIB) negativo em 3,6%, o Brasil inicia 2018 mais fortalecido, caminhando ainda de forma lenta rumo ao processo de recuperação. “O principal ingrediente para essa retomada do crescimento é o ambiente internacional”, declarou Antonio Lanzana, economista e professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) em sua palestra “Cenários Econômicos: O que esperar de 2018”.
No mercado internacional o que está soprando a favor do Brasil, segundo Lanzana, é o excesso de liquidez. “Há muito dinheiro disponível no mundo e a consequência disso é o juro real extremamente baixo e, por falta de alternativa, os investimentos empresariais estão sendo direcionados aos países emergentes, favorecendo muito o Brasil.”
A previsão mais recente do Fundo Monetário Internacional (FMI), segundo Lanzana, aponta que o mundo está ace-lerando o seu ritmo de crescimento e isso abre perspectivas importantes para o Brasil com a expansão das exportações, que já vem apresentando um bom desempenho. “E não é somente produto agrícola, o país está aumentando também o embarque de produtos industrializados em 12,9%, de itens básicos em 28% de janeiro a outubro em comparação ao ano passado. O efeito multiplicador das exportações é a criação de emprego e o aumento da renda e do consumo, o que faz girar a economia”, ressaltou o economista.
Na contramão da tendência de expansão mundial, a China está desacelerando de forma consistente, mudando a sua estratégia de crescimento e alterando o seu modelo de política econômica ao dar menos ênfase ao investimento, pois já investiu muito em infraestrutura, e agora enfatiza mais o consumo. “Mas, mesmo assim, há um incremento forte do PIB chinês, projetado para 6,8% este ano e para 6,5% em 2018”, observou Lanzana.
A América Latina também está retomando o seu ciclo de expansão. No Chile o PIB estimado em 1,4% este ano deverá atingir 2,5% em 2018. Na Colômbia crescerá de 1,7% para 2,8%, no Peru de 2,7% para 3,8% e na Argentina manterá o índice de 2,5%.
“Temos hoje um forte aumento das exportações de automóveis para a Argentina, beirando a casa de 50% em relação ao mesmo período do ano passado”, disse Lanzana.
Entre os países da América Latina o México deverá ter um pequeno recuo no crescimento do PIB, de 2,1% projetado para este ano, para 1,9% em 2018. “O único caso grave na região é o da Venezuela, que
teve uma queda de 16,5% do PIB em 2016, mas deverá reduzir o índice de retração para 12% em 2017 e diminuir para 6% em 2018”, comentou Lanzana.
Brasil
Para o mercado brasileiro o professor de economia da USP projeta uma ligeira alta do dólar em 2018 que hoje está cotado em R$ 3,25. “Essa tendência de aumento deve-se à retomada a exportação que acaba pressionando o câmbio, mas não será uma elevação expressiva”, explicou.
O índice de produtividade deve-se manter em ritmo de crescimento. “O que pode ocorrer, dependendo da sucessão eleitoral, é a volatilidade no mercado financeiro, com subidas e descidas do câmbio, oscilação da bolsa e um aumento do risco Brasil porque a eleição vai dar alguma margem à especulação”, disse Lanzana.
A estimativa do economista é que PIB do Brasil avance para 3% no próximo ano. “Estamos entrando numa reversão que cria uma expectativa de recuperação melhor para 2018. A bolsa de valores está hoje
20% acima do que estava no final do ano passado. O risco Brasil diminuiu quase um quarto para 23% e o investimento estrangeiro está 10% acima do que estava em 2016”, detalhou Lanzana.
Os indicadores do nível de atividade também estão melhores, segundo Lanzana. A taxa de desemprego caiu de 13,7% no primeiro trimestre para 12,4% atualmente e houve a criação de 302 mil empregos formais até outubro de 2017, segundo fonte do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). E a estimativa é que o PIB tenha uma melhora, saindo de uma queda de 3,6% em 2016 para um crescimento de 0,8% m 2017.
Lanzana destacou que os indicadores financeiros, os primeiros a serem impactados pela crise, também estão positivos. “Temos hoje uma política econômica do governo atual extremamente competente. As medidas econômicas tomadas por essa equipe trouxeram resultados importantes para o país.”
O primeiro efeito positivo citado pelo economista é a queda da inflação, que chegou ao patamar de 10,70% em 2015 e deverá cair para 3,30% em 2017, com previsão de atingir 3,80% em 2018. “Isso abriu espaço importante para reduzir as taxas de juros. Em 2015 a Selic (taxa básica de juros da economia) era de 14,25% e deverá fechar 2017 com o índice de 7%, mantendo-se neste patamar em 2018”, projetou Lanzana. “O agronegócio, que foi muito bem este ano, trará um impacto positivo para o setor industrial com o aumenta a demanda em 2018. E a exportação continuará avançando”. Lanzana destacou também a redução substancial do déficit externo, que estava em quase 4% do PIB e atinge atualmente 1% do PIB.
Contas públicas
Sobre as contas públicas o economista destacou que o superávit primário do Brasil que era de 2,1% do PIB em 2009, caiu para 1,9% em 2013, chegando a um déficit de 0,6% em 2014, índice que deverá aumentar para 2,3% em 2017 e atingir 2,1% em 2018. “Para interromper o crescimento da dívida pública esse déficit tem que ser revertido para um superávit de 3%”, afirmou Lanzana, esclarecendo que as contas públicas envolvem um ajuste equivalente a 5% do PIB, o que é impossível fazer em curto prazo. “Não temos como escapar de um rearranjo de finanças públicas. A despesa tem que crescer menos que a receita para não explodir a dívida pública.”
Lanzana salientou que, embora o setor industrial esteja operando com 77,4% de capacidade ociosa, índice que estava em 84%, com patamar de produção igual a 2009, já há sinais de retomada e indicações positivas de investimento. “Temos um volume de investimento crescente (não de plantas novas), o que a gente chama de consumo aparente de bens de capital. Se produz menos o que exporta e mais o que importa”, acrescentou.
Para o economista a situação atual do Brasil é mais confortável do que vivemos em 2017. “Mas não recupera toda a perda que tivemos em 2015 e 2016. Isso vai levar mais tempo”, alertou Lanzana.