Diante da falta de previsibilidade e baixo volume de encomenda, a expectativa para 2018 é de queda na produção de vagões, locomotivas e trens de passageiros
sonia moraes
A indústria ferroviária enfrenta uma verdadeira montanha russa, com falta de previsibilidade e encomendas que não se sustentam por um longo período em um determinado patamar. De 4.703 vagões produzidos em 2014 o volume recuou para 4.683 em 2015, chegando a 3.903 unidades em 2016. “Para este ano, a previsão de entregar 2.500 vagões aumentou para 2.900 unidades porque as concessionárias anteciparam o pedido de 400 vagões de carga de 2018”, declarou Vicente Abate, diretor do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre) e presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer).
A quantidade de locomotivas produzidas diminuirá de 109 unidades em 2016 para 81 unidades este ano. E a de carros de passageiros cairá de 473 unidades fabricadas no ano passado para 310 unidades neste ano, o que representa um declínio de cerca de 30% em todos os tipos de veículos, segundo cálculo de Abate.
Para 2018, a estimativa de um desempenho melhor da indústria de vagões de carga, locomotivas e materiais para via permanente, segundo Abate, dependerá da continuidade dos investimentos das concessionárias Rumo, VLI, MRS e Vale, que continuam negociando com o governo a renovação antecipada de seus contratos que vencerão em dez anos. “É de vital importância que as assinaturas de todos os contratos de renovações ocorram até o primeiro trimestre de 2018. Caso isso não aconteça, poderá haver mais perda de mão de obra na indústria, assim como atrasos significativos nos investimentos planejados pelo setor, pois os volumes de vagões e locomotivas serão os mais baixos dos últimos anos”, ressaltou o presidente da Abifer.
Abate afirmou que é muito preocupante o que vem ocorrendo com a produção de locomotivas. “De 81 unidades previstas para este ano o volume reduzirá para 60 unidades em 2018 que deverá ser completadas com antecipação de compras de 2019, pois no ano passado a indústria não teve encomendas e ainda não tem pedidos em carteira para o próximo ano”, esclareceu o presidente da Abifer.
O setor de carros de passageiros também terá queda na produção em 2018 e deverá entregar 298 veículos, dos quais 94 unidades serão destinadas para a exportação. O volume de vagões oscilará entre 2.000 e 3.000 unidades. “Os 3.000 vagões e as 60 locomotivas somente serão possíveis de serem produzidas se as renovações ocorrerem até o primeiro trimestre de 2018”, reforçou Abaste.
Realizações
O presidente da Abifer destacou os investimentos realizados pelas empresas ao longo deste ano. A VLI aplicou R$ 3 bilhões na construção do novo terminal em Santos, que contribuirá para o aumento da produtividade da empresa que passará de sete milhões de toneladas este ano para 14 milhões de toneladas o volume de embarques.
A Vale, maior exportadora de minério, iniciou a primeira fase de operação do projeto S11D de Carajás, no Pará. “São 30 milhões de toneladas em cada fase e esperamos que em 2020 esteja movimentando 420 milhões de toneladas”, disse Abate.
A MRS lançou o terminal intermodal em Jundiaí, no interior de São Paulo. Esta empresa que está voltada à carga geral tem dado grande foco ao transporte de contêineres e a previsão de Abate é de um volume promissor para os próximos anos.
Trens de passageiros
No segmento de trens de passageiros as empresas não receberam novas encomendas em 2017 e tem mantido o ritmo de suas fábricas com os pedidos fechados em anos passados, segundo informou Luiz Fernando Ferrari, vice-presidente do Simefre.
Também não há previsão de encomendas para 2018. “A recente concorrência realizada em São Paulo para a compra de oito trens para a Linha 13 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) que liga São Paulo ao aeroporto de Guarulhos foi vencida por um fabricante chinês”, informou Ferrari.
Abate afirmou que o governo de São Paulo tentou, com a ajuda da Abifer, que as encomendas viessem para o Brasil. “Infelizmente o banco europeu de investimento não deu a margem de preferência inicialmente e não aceitou a falta de atestado técnico compatível”, esclareceu o presidente da Abifer. “Devido ao atraso nas contratações, os chineses deverão entregar os trens à CPTM entre 2019 e 2020”.
“Diante deste quadro, os fabricantes de carros tiveram que reduzir significativamente a sua mão de obra. Essa diminuição só não foi mais dramática por causa das exportações, a execução de serviços de modernização de trens e a fabricação de carros remanescentes de contratos nacionais que se encerrarão em 2018”, explicou Ferrari.
Depois de dez anos contínuos de crescimento o faturamento total do setor em 2017 deverá ficar inferior ao de 2016, que totalizou R$ 6,6 bilhões, projetou Ferrari.
Previsão
Para 2018, Ferrari está confiante na retomada das obras da Linha 6 e o início das obras da Linha 18, ambas da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), além do lançamento do Trem InterCidades (TIC) no trecho São Paulo a Americana e de uma possível licitação do Trem Goiânia a Brasília. “Todos estes projetos gerarão importantes encomendas para a indústria brasileira nos próximos anos”, destacou.
Dos 310 carros de passageiros que deverão ser produzidos neste ano, 88 unidades serão exportadas para a Argentina, Chile e África do Sul. Os materiais como rodas, truques e grampos de fixação foram exportados, porém em volumes menores, devido ao câmbio médio valorizado em relação a 2016.
A grande expectativa da indústria nacional de carros de passageiros para 2018 é a participação da licitação na Argentina que está interessada nos trens brasileiros. “Estamos falando em 1.600 veículos e pode ser que seja a compensação para o momento de dificuldades do setor, pois temos que pensar que 2019 vai ser um ano bastante difícil para a indústria brasileira. Mas, a participação do BNDES é fundamental para que as empresas tenham a chance de competir com os chineses”, disse Ferrari.