Sonia Moraes,
Se em dezembro repetir a média mensal de 1.400 ônibus fabricados ao longo deste ano, o setor encerrará 2017 com 14,6 mil unidades, podendo superar em 500 unidades o volume de 2016, de 14,1 mil veículos
Depois de acumular uma retração de 62,6% em seis anos, ao reduzir a produção de carrocerias de 35,5 mil unidades em 2011 para 13,2 mil unidades, no acumulado de janeiro até novembro deste ano, conforme apontam os dados divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus), o setor de ônibus começa a sinalizar uma expecta tiva de melhora, segundo análise de José Antonio Fernandes Martins, presidente do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre).
“O mercado de ônibus melhorou sensivelmente. Não houve explosão de demanda, mas uma melhora pequena, com alguns empresários fazendo consultas, analisando preço e solicitando crédito. >
Antes estava tudo parado”, relatou Martins durante o encontro anual do Simefre realizado na sede da entidade em São Paulo, quando foi apresentado o resultado econômico dos setores filiados ao sindicato e a perspectiva para 2018.
Se em dezembro repetir a média mensal de 1.400 ônibus fabricados ao longo deste ano, o setor encerrará 2017 com uma produção de 14,6 mil veículos, podendo superar em 500 unidades o volume de 2016, quando foram produzidos 14,1 mil veículos. No entanto, Martins considera o volume deste ano muito abaixo das 35,5 mil unidades fabricadas em 2011, quando a economia do país estava bem aquecida. >
Entre os fatores que poderão impulsionar o mercado de ônibus em 2018, segundo Martins, está a recente licitação aberta pelo governo federal para a compra de seis mil ônibus escolares do programa Caminho da Escola, que é coordenado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia vinculada ao Ministério da Educação. “Metade desses ônibus terá poltrona móvel”, esclareceu.
Existe ainda a melhora do mercado de rodoviário e de turismo, que voltou a comprar ônibus.
O aumento da demanda por modelos rodoviários, segundo Martins, está atrelado à nova regulamentação para o setor determinada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que agora é pelo sistema de autorização e prevê que até 2020 a idade média da frota, que hoje é de 9,8 anos, seja reduzida para cinco anos. “Logo, o mercado terá que trocar entre 2.000 e 2.500 ônibus por ano, durante os próximos quatro anos”, calculou Martins.
Para as empresas de ônibus rodoviários de linhas regulares de turismo e fretamento, a determinação do governo é que a partir de 1º de julho de 2018 sejam obrigadas a portar o dispositivo de poltrona móvel para pessoas com de? ciência. Martins explicou que o equipamento é caro, custa em torno de R$ 30 mil por ônibus, o que deverá levar as empresas a adquirir modelos novos.
O presidente do Simefre comentou que, embora esses fatores estejam estimulando o mercado rodoviário, o volume de ônibus produzidos é bem menor que em anos passado.
No segmento de urbanos a percepção de melhora está atrelada à nova modalidade de financiamento por meio Programa de Renovação de Frota do Transporte Público Coletivo Urbano de Passageiros (Refrota 17), lançada no final de 2016 pelo governo federal.
“O Refrota já começa a dar uma perspectiva de melhora com a redução dos juros e a participação dos bancos das montadoras no programa que é administrado pela Caixa Econômica Federal, para dar 100% de garantia aos financiamentos”, observou Martins. “Acredito que de um a dois meses, esse processo comece a dar resultado.”
Pelos cálculos do Simefre o mercado de ônibus deverá ganhar algo em torno de seis mil ônibus escolares, mais 2.500 do programa para o setor rodoviário, mais alguns de fretamento e turismo, além dos modelos urbanos do programa Refrota. “Isso garantirá um crescimento de 12% a 15% para 2018 na comparação com 2017”, projetou Martins.
DEMANDA MENOR
Em sua análise sobre o mercado de ônibus, Martins disse comentou o forte impacto que a crise causou às empresas. “O maior empresário de São Paulo que há 20 anos fazia dez viagens por dia, levando de 1.000 a 1.200 passageiros por ônibus, realiza hoje (quando não chove) de cinco a
seis viagens diariamente e não transporta mais do que 450 passageiros, o que representa uma queda de 50% na receita da empresa. Isso ocorreu devido à recessão econômica que aconteceu no país, devido aos problemas que tivemos no governo anterior com os aumentos brutais de déficits fiscais, que impactaram negativamente na economia”, explicou.
“A economia parada gera desemprego, sobem as tarifas e a pessoa sem emprego não vai andar de ônibus. Com a baixa no faturamento por causa da queda no número de passageiros, as empresas não compram ônibus”, salientou Martins.
Ao analisar o cenário atual do país, Martins mensurou a quantidade de empresas que foram à falência e o número absurdo das que estão em recuperação judicial. “A crise fez com que as empresas perdessem o preparo físico e a economia do Brasil atingisse o mais baixo índice de crescimento. Tudo isso foi resultado dos déficits fiscais brutais, do desmando e da imprevidência de governos anteriores”,
O presidente do Simefre lembrou também das benesses concedidas pelo governo anterior, com o plano Brasil Maior, época que se comprava ônibus e caminhões pagando 2% de juros durante dez anos, sem nada de entrada, e a Selic (taxa básica de juros do país) variava de 7,5% a 8%, criando uma demanda absolutamente artificial.
“Agora estamos com uma expectativa melhor”, comentou Martins. “A taxa de juros de 14% ao ano caiu para 7% e a inflação de 10,5% a 11% deve ficar em torno de 3,5% a 3,7%. Então, essas figuras econômicas fazem com que as famílias sejam beneficiadas com a inflação menor. Elas conseguem se desalavancar dos endividamentos e, voltando a ter perspectiva da empregabilidade, começam a voltar ao consumo.”
Martins afirmou que o Brasil deverá fechar 2017 com superávit superior a US$ 62 bilhões. “Não devemos um centavo na área internacional, mas no mercado interno estamos com esse déficit primário de 2,2% do PIB que vai a R$ 163 bilhões e estão sendo equacionados.“
Do total de 13,2 mil carrocerias produzidas no acumulado de janeiro a novembro deste ano, o maior volume de 4.871 unidades foi da Marcopolo, sendo 3.661 unidades da fábrica de Caxias do Sul e 1.210 unidades da Marcopolo Rio. A Caio Induscar fabricou 4.465 carrocerias, a Mascarello fez 1.455, a Neobus 1.332, a Comil 778 e a Irizar produziu 365 carrocerias neste ano.
Ao mercado externo as fabricantes enviaram 4.315 veículos no acumulado de janeiro a novembro, superando as 4.242 unidades exportadas em todo o ano de 2016.
CHASSIS
– De acordo com os números divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o licenciamento de ônibus no acumulado de janeiro a novembro de 2017 totalizou 10.534 unidades, comparadas com 10.495 em igual período do ano passado, uma ligeira queda de 0,4%. Líder de mercado, a Mercedes-Benz teve 5.366 veículos emplacados no período, apresentando declínio de 6% em relação ao ano anterior. Na vice-liderança, a MAN registrou um surpreendente avanço de 14,9% sobre o resultado de 2016, com 1.942 veículos emplacados, enquanto a terceira colocada, a Agrale, atingiu o total de 1.272 unidades licenciadas, superando os 1.016 veículos da Iveco, que, no entanto, obteve um desempenho favorável: crescimento das vendas de 43,9% em relação a 2016.