O presidente da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), José Hélio Fernandes, afirma que o país vive efetivamente uma recuperação da sua economia. “O que imaginávamos no primeiro semestre de 2017 vem se confirmando; embora lenta, é nítida a retomada. Felizmente, temos percebido que a economia está razoavelmente descolada da crise política, que persiste”, avalia.
Estruturada em todo o país, a NTC& Logística congrega aproximadamente 3.500 empresas associadas diretamente e mais de 50 entidades patronais, incluindo federações, sindicatos e associações especializadas, que representam aproximadamente 10.500 empresas, as quais contam com frota total superior a 1,5 milhão de caminhões e oferecem mais de um milhão de postos de trabalho.
O dirigente acrescenta: “Minha expectativa é de que tenhamos em 2017 possivelmente o melhor final de ano destes últimos quatro anos. Pelo que temos acompanhado, o comércio está confiante. Logicamente, se a crise política fosse resolvida, a coisa poderia andar mais rápido.”
O dirigente aponta como aspectos significativos da recuperação a queda dos juros, as reformas em andamento – “a reforma trabalhista já foi feita e há outras a caminho” – e a inflação, que está muito baixa. Quanto a este último ponto, faz uma ressalva: “Temos ainda 13 milhões de desempregados, o que é algo muito sério. Isso contribui para a queda da inflação porque, na verdade, a população perdeu poder de compra e na medida em que as pessoas não compram, os preços caem”.
Ele também informa que há ainda muitos caminhões parados. Em janeiro de 2017, um levantamento que a NTC&Logística faz semestralmente junto a quase 1.800 empresas transportadoras mostrou que 9,9% dos veículos estavam parados. No levantamento feito em julho, os resultados não foram diferentes. “Ficamos praticamente nos mesmos patamares, embora em determinados segmentos, como o do agronegócio, tenha sido observada uma melhora, em virtude da ‘supersafra’ de grãos registrada neste ano e que vem prolongando o escoamento dessa produção”, afirma.
O dirigente espera que em razão da preparação de estoque de final de ano, os setores industrial e comercial contribuam para ampliar o retorno da frota ociosa à atividade. “Queremos que todos esses caminhões possam trabalhar, ajudando a melhorar o perfil de desempenho das empresas”, comenta.
INCÓGNITA
José Hélio Fernandes concorda que 2018 possa trazer dificuldades adicionais, com a sucessão no Executivo e no Legislativo, nas esferas federal e estadual. “Espero que a economia permaneça descolada das questões políticas, mas o tema da eleição pode trazer preocupação, sim”, observa.
Ele considera que, eleitoralmente, o próximo ano ainda seja uma grande incógnita, pois, com o atual quadro, não há nomes consolidados. A percepção é de que haverá uma grande mudança no Congresso, tanto na Câmara, como no Senado. E mais: dependendo da situação que se configurar para a corrida presidencial – ou seja, dependendo dos candidatos que tenham maior potencial – poderá haver algum impacto de natureza negativa sobre o andamento da economia. “O que esperamos é que o processo possa seguir com naturalidade, chegando à melhor definição possível, sem retrocessos.”
MARCO REGULATÓRIO
O presidente da NTC&Logística afirma que as dificuldades no campo político não têm dificultado o andamento do debate sobre o marco regulatório do transporte de cargas na Câmara Federal. “Os trabalhos a respeito dessa matéria se iniciaram há dois anos e meio, caminharam e agora vivem um momento importante. No final de julho, a Comissão Especial que cuida do tema divulgou o primeiro relatório, de caráter preliminar, pedindo a todos os setores envolvidos que apresentassem sugestões com relação ao texto e isso foi feito por todos. Em nosso setor, debatemos muito. Fizemos duas reuniões a respeito, uma em Brasília e outra em São Paulo”, acrescenta.
O dirigente explica que os parlamentares tinham um cronograma e que se dispunham apresentar logo um relatório definitivo. “Esse cronograma não foi cumprido, mas já sabíamos que na hora em que o relatório preliminar fosse apresentado, todos iriam procurar debater os aspectos que interferem nos seus respectivos segmentos e foi o que aconteceu e o que continua acontecendo”, relata.
José Hélio Fernandes assegura que, mais importante do que apressar o processo, é fortalecer o debate. “Quanto mais conversas, melhor. Embora saibamos que o marco regulatório será muito importante para a nossa atividade, também sabemos ser preciso muito cuidado com o resultado final. Isso porque se trata de um setor bastante complexo, com diferentes atores, como o transportador, o embarcador, o segurador, o gestor de risco, o trabalhador, o autônomo, e o marco regulatório irá mexer com a vida de todo mundo. Queremos construir um instrumento que traga contribuições e não dificuldades ao nosso setor e a todos os outros setores com os quais interagimos”, ressalta.
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