Com 28,5 mil quilômetros de densidade de malhas, se posicionando em décimo lugar no ranking mundial, e 25% de participação na movimentação de cargas no país, as ferrovias têm se destacado como um meio de transporte importante na logística brasileira e mesmo com a economia fragilizada vem mantendo a trajetória de crescimento.
“Apesar do cenário de recessão por causa da crise política, a ferrovia conseguiu aumentar a produtividade”, afirma Ticiano Bragatto, gerente técnico da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF).
Em 2016 foram transportados pela ferrovia brasileira 340 bilhões de toneladas (TKU) de cargas, um crescimento de 2,4% sobre os 332 bilhões movimentados em 2015. Na comparação a 1997, quando foram transportados 137 bilhões de toneladas, até o ano passado o crescimento foi bastante expressivo, segundo a ANTF. A movimentação de cargas pelas ferrovias brasileiras totalizou 503 milhões de toneladas úteis (TU), um crescimento de 2,2% sobre 2015, quando foram transportados 492 milhões de TU. No período de 1997 a 2016 o volume de mercadorias transportadas cresceu 98,8%, segundo a ANTF.
“Hoje a ferrovia integra uma parte extremamente importante da multimodalidade do país”, destaca Bragatto. “Apesar da pequena participação na matriz dos transportes, é responsável pela movimentação de grandes volumes de cargas até os principais portos brasileiros. ”
Por ferrovia chegam aos portos mais de 90% de minério de ferro, mais de 54% de açúcar e 46% de cereais, com destaque para o milho, o farelo de soja e a soja. “Embora não seja do tamanho como se gostaria, a ferrovia tem uma atuação expressiva no transporte dos principais produtos (granéis e commodities) que compõem a balança comercial brasileira”, analisa Bragatto.
Segundo o gerente, para a movimentação de 22 milhões de produtos pelas ferrovias em 2016, foram necessários mais ou menos 803 mil caminhões. “Essa carga é suficiente para carregar 335 navios Panamax e para realizar o transporte o trem percorreu uma distância média de 1.836 quilômetros”, ressalta Bragatto.
Para o transporte de milho, cujo volume é superior a 10 milhões de toneladas – equivalente a 169 navios Panamax –, foi preciso 363 mil caminhões e a distância média percorrida foi de 1.359 quilômetros. A movimentação de 14 milhões de toneladas de açúcar precisou de 512 mil caminhões. Com essa carga, que equivale a 239 navios Panamax, o trem percorreu 595 quilômetros.
Para o transporte de 400 milhões de toneladas de minério de ferro, volume compatível a 1.529 navios Chinamax de 250 toneladas, a distância média percorrida pelo trem foi de 657 quilômetros. “Diante dessa capacidade a ferrovia brasileira tem enorme vocação para preencher a lacuna existente no país para o transporte de commodities”, avalia Bragatto. Nos diferentes modais a distância considerada ótima varia entre 400 e 500 quilômetros no rodoviário e 1.400 quilômetros no ferroviário. “A partir de 1.400 quilômetros se torna mais interessante fazer a cabotagem em longo curso”, afirma o gerente. No transporte de contêineres a ferrovia mantém um crescimento expressivo desde o início das concessões. Até 2015 o avanço foi de 12.000%, segundo o gerente da ANTF. “Estamos modernizado as ferrovias para ficar um pouco mais invulnerável à flutuação das commodities no mercado internacional”, destaca Bragatto.
O gerente da ANTF ressalta que as ferrovias têm tentado fazer mais trânsito interno, transportando mais contêineres para não ficar dependente das altas e baixas do mercado de commodities agrícolas e de mineral. “O terminal de contêineres de Imbituba, em Santa Catarina, tem capacidade para movimentação de 1.000 TEU. Desse total, mais de 700 TEU estão chegando por ferrovia. ”
Bragatto afirma que tem operadora de ferrovia fazendo o transporte de Manaus até Santos por cabotagem e subindo a serra com contêineres para São Paulo. “Temos malha com grade fixa de horário para carga conteinerizada para que se tenha o compromisso de carga e descarga totalmente definido”, comenta.
Segundo o gerente da ANTF, a distância de 1.400 quilômetros considerada ótima para a ferrovia significa que mais de dois terços do país tem capacidade de escoamento de carga ferroviária, cobrindo uma das maiores regiões de produção agrícola e de maior fronteira do Brasil.
Mas para a ferrovia dar um salto e conseguir um equilíbrio melhor na matriz de transporte, é preciso a expansão da malha por meio de novas concessões, segundo Bragatto. “No programa Avançar do governo federal tem o Ferrogrão, o tramo central da Ferrovia Norte-Sul e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) para entrar em concessão”, diz.
Outra forma rápida para o avanço da ferrovia, na avaliação de Bragatto, é o aumento da capacidade da malha concedida pela prorrogação dos contratos. “Com a renovação dos contratos, estão previstos investimentos de R$ 25 bilhões da iniciativa privada”, informa o gerente da ANTF. “Estamos falando no aumento da capacidade de carga em um dos principais corredores, a malha paulista, de 35 milhões de toneladas para 75 milhões de toneladas por ano.”