Depois de um desempenho fraco em 2016, com R$ 80,2 bilhões liberados para o financiamento de veículos novos (incluindo automóveis, caminhões, ônibus e motocicletas), o que representou uma queda de 9,9% sobre os R$ 88,9 bilhões disponibilizados no ano anterior, a Associação Nacional das Empresas Financeiras de Montadoras (Anef) projeta um crescimento de 5,5% para R$ 86,7 bilhões no total de recursos a serem disponibilizados em 2017 nas operações realizadas por meio do crédito direto ao consumidor (CDC).
O saldo em carteira dos bancos das montadoras, que no ano passado atingiu R$ 162,7 bilhões, deverá avançar 2,5%, totalizando 166,7 bilhões neste ano. “No primeiro semestre o mercado deverá manter o ritmo, pois o nível de confiança da população ainda continua baixo e ninguém quer comprometer sua renda ou ficar inadimplente. A nossa expectativa é de crescimento no volume de negócio, mas ainda muito inferior aos anos anteriores”, projeta Gilson Carvalho, presidente da Anef.
Carvalho explica que a queda de 9,9% no total de recursos liberados em 2016 foi decorrente do fraco desempenho da economia que impactou expressivamente na concessão de crédito ao consumidor. “Ao mesmo tempo em que os bancos foram mais rigorosos, em razão do aumento de riscos, muitos consumidores optaram por adiar as suas compras com medo de não conseguir quitar as dívidas. Então o ano de 2016 foi de muita cautela, tanto por parte das pessoas, como das instituições financeiras”, esclarece o presidente da Anef.
Carvalho afirma que quando se analisa a perspectiva econômica e considerando vários cenários o mercado brasileiro tem mais condições de melhorar do que piorar. “Quando se olha o que está acontecendo, as propostas de governo, as mudanças microeconômicas e algumas macroeconômicas eu acho que a expectativa para o mercado brasileiro está muito mais para o positivo do que para o negativo.”
O presidente da Anef admite que possa acontecer algo no meio do caminho que não está sendo previsto. “Mas não creio que alguém esteja ponderando isso nos cálculos. Já houve no final do ano passado uma previsão que o ano de 2017 seria um pouquinho desfavorável, com o Produto Interno Bruto (PIB) oscilando entre zero e negativo. Tenho confiança que com essa medida de liberação do fundo de garantia e outras coisas, principalmente com destaque da produção industrial de dezembro e algum sinal de melhora em janeiro, traga resultados melhores neste ano. Ainda é muito precoce falar em número acima de 1%. Com os dados que temos hoje o avanço deverá oscilar entre 0% a 1%”, projeta Carvalho.
Veículos comerciais – Sobre a suspensão de compra de veículos comerciais, o que tem provocado o envelhecimento da frota, o presidente da Anef comentou que a dificuldade que o país enfrenta atualmente é uma consequência da antecipação de compra, principalmente no período em que as taxas do Finame eram baixas e havia perspectiva de crescimento, uma vez que a economia estava sendo impulsionada por crédito. “Naquele momento comprou-se até o que não precisava e hoje sofremos um pouco, então vamos ter a história de que vendeu 60 e tem 40 que deveriam ter sido comprados, que foi a média da primeira década, aí vai fazer com que a idade média dos caminhões e ônibus fique um pouco mais velha sem sombra de dúvida, mas não vejo esse movimento de sucateamento da frota. Tivemos uma quantidade grande de veículos vendidos na primeira parte desta década. A partir de 2011 os números foram muitos altos, mais do que em anos anteriores”, destaca Carvalho.
Segundo dados divulgados pela Anef, o Finame continua sendo o carro-chefe das vendas de veículos comerciais (caminhões e ônibus), sendo responsável por 62% das negociações no ano passado, seguido pelo CDC (17%), compras à vista (14%), consórcio (5%) e leasing (2%). “Em veículos comerciais o financiamento via Finame sofreu retração de 4% no ano passado, em relação a 2015. Isso pode ser atribuído em grande parte, à migração para modalidades de financiamento, como o consórcio e o CDC, e também para as vendas à vista”, justifica Bernd Barth, vice-presidente setorial de veículos comerciais da Anef.
“Um dos prováveis fatores para essa mudança pode ser atribuído às condições pós-fixada do Finame, que não se mostraram tão atrativas em relação às demais modalidades pré-fixadas, sinalizando preferência dos clientes por alternativas mais seguras e previsíveis de financiamento frente a um cenário econômico considerado ainda instável”, destaca Barth.
Em 2008 o Finame tinha 50% de participação nas vendas de veículos pesados, em 2011 chegou a representar 70% e atingiu o mais alto índice de 77% em 2013, quando o mercado estava muito aquecido por conta dos incentivos concedidos pelo governo federal. Em 2016, sem o benefício de taxas atrativas, a participação caiu em relação a 2015 de 66% para 62%, o que fez aumentar a procura por outras modalidades. A venda à vista que em 2008 representava 10% aumentou para 14% no ano passado. Na mesma comparação o financiamento subiu de 8% para 17%, (sendo 10% por meio do CDC e o restante via consórcio).
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