Para cada pouso de avião de passageiros que acontece em um aeroporto, há toda uma operação paralela sendo realizada, dentro e fora dos terminais e pistas, para concretizar o transporte de cargas aéreas carregadas nos bagageiros das aeronaves.
Cerca de 9% da receita das empresas aéreas, em média, vem do transporte de carga. Isso é o dobro do que representa a receita obtida por uma companhia com a venda de passagens da primeira classe do avião, que gira em torno de 4,5% da receita.
Segundo Ângelo O.T. Dotto, diretor de logística aérea da empresa alemã Kuehne + Nagel Serviços Logísticos, uma das líderes mundiais de transporte de cargas aéreas, a carga aérea representa perto de 1% do volume total de cargas movimentadas mundialmente por todos os modos de transporte. Considerando-se o valor das cargas transportadas, a carga aérea representa cerca de 35% do valor total das cargas transportadas mundialmente.
De acordo com o executivo, a tendência hoje no mercado é de crescimento da oferta de espaço para cargas nos aviões de passageiros e a redução no número de aviões cargueiros em todo o mundo. “Na verdade, os cargueiros estão entrando quase que em extinção. Não vão acabar, mas vão virar ferramenta de trabalho para um mercado específico, que é voltado para cargas de tamanhos especiais, que não podem entrar em um voo de passageiro”, afirma Dotto.
Ele destaca que os novos aviões que chegam ao mercado têm maior capacidade de passageiros e também maior disponibilidade para cargas. Enquanto um cargueiro de médio ou longo alcance pode transportar cerca de 50 toneladas, um avião de passageiros pode levar isso em sua rota normal, embaixo dos passageiros, sendo que isso representa 9% da receita do avião.
“Quem opera só cargueiro no mercado está passando por dificuldades. É difícil hoje uma companhia cargueira sobreviver sem ter uma divisão de correio ou de cargas especiais, ou sem ter um acordo com uma empresa de e-commerce, segmento que está virando um dos nichos de mercado para a empresa cargueira”, diz Dotto.
As tarifas também estão retraídas, tiveram queda de cerca de 12% de 2015 para 2016, o que vem pressionando a receita. Segundo o executivo, no ano passado o mercado de carga aérea teve desempenho estável em relação ao ano anterior, com o início do período mais difícil e certa recuperação no segundo semestre. Em outubro, o mercado de carga aérea cresceu 8% no mundo inteiro. A América Latina, porém, não fez parte desse crescimento porque está passando por enormes dificuldades em termos de carga aérea. Houve uma queda de 13% no volume de importação de cargas que vêm da América do Norte para a América Latina e de 7% no volume que vem da Europa. Esse dado inclui as mercadorias que vêm da Ásia, que não tem voo direto para a América Latina.
No Brasil, a carga aérea de importação caiu 30% no último ano e a capacidade de voos cargueiros para o Brasil caiu mais de 50% por falta do que transportar nesses cargueiros. Segundo Dotto, esses cargueiros vêm para a região não só para atender à importação do Brasil, mas voam para a costa oeste do continente para buscar perecíveis.
Ele ressalta também que a exportação dos Estados Unidos está caindo e é mais um fator que pesa no volume de importação para o Brasil, a carga de tecnologia também está caindo não somente pelo custo do frete, mas também porque o marítimo está mais eficiente e seguro, tornando-se importante concorrente.
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