Estudo da CNT mostra que preço é um dos desafios para o uso do ‘diesel verde’ no Brasil

Para a entidade, em contraste ao biodiesel, o HVO é amplamente adotado em outras partes do mundo, evidenciando a falta de incentivo para avanços tecnológicos no Brasil

O combustível renovável HVO, conhecido popularmente como 'diesel verde', traz vantagens como dispensar a necessidade de modificações nos motores de veículos a diesel e apresenta propriedades que tornam o processo de combustão eficiente. Contudo, há alguns desafios para implementar o combustível no Brasil

Aline Feltrin

O combustível renovável HVO, conhecido popularmente como ‘diesel verde’, traz vantagens como dispensar a necessidade de modificações nos motores de veículos a diesel e apresenta propriedades que tornam o processo de combustão eficiente. Contudo, há alguns desafios para implementar o combustível no Brasil. Os que chamam mais atenção são os preços mais elevados que o combustível convencional devido ao seu processo produtivo mais complexo e a pouca oferta do combustível no Brasil e no mundo. Essas são algumas das conclusões da quarta edição da Série CNT Energia no Transporte divulgada nesta sexta-feira (24). A publicação da Confederação Nacional do Transporte aborda o combustível como uma opção de baixo carbono para caminhões e ônibus rodoviários.

Como parte dos compromissos assumidos no Acordo de Paris, o Brasil visa reduzir em 53% as emissões de gases de efeito estufa até 2030, e o diesel verde surge como uma alternativa promissora para alcançar essa meta.

Restrições

Para a gerente executiva ambiental da CNT, Erica Marcos, os desafios poderiam ser resolvidos por meio de leis. “Enquanto o biodiesel de base ésteres foi promovido por meio de mandados, há uma notável falta de estímulo para o diesel verde, gerando um problema político ligado à reserva de mercado”, analisa.

Conforme a executiva, restrições têm sido impostas a novas tecnologias, como o diesel verde, para sustentar a indústria de transesterificação. “Em contraste ao o biodiesel, o HVO é amplamente adotado em outras partes do mundo, evidenciando a falta de incentivo para avanços tecnológicos no Brasil.”

O Ministério de Minas e Energia adotou uma abordagem conservadora, fixando um teto de 3% para o uso de diesel verde, enquanto o biodiesel já alcança 14%. “Apesar de existirem refinarias no Paraná produzindo diesel verde, a escala nacional ainda é um desafio devido à ausência de mandatos”, diz.

Para Erica, a tecnologia do diesel verde, similar ao co-processamento da Petrobras, mostra-se promissora, mas a necessidade de hidrogênio para a hidrotratação implica em custos elevados. “Por isso, a garantia de demanda através de mandatos poderia impulsionar investimentos em escala.”

Resistência às mudanças

Ainda conforme Erica, a qualidade do diesel verde é reconhecida por sua eficiência energética e impacto ambiental reduzido. Além disso, o potencial para criação de empregos e diversificação da matriz energética é significativo, especialmente considerando que utiliza a mesma biomassa do biodiesel convencional.

Mesmo assim, ela diz que a resistência à mudança por parte dos produtores de óleo vegetal é compreensível, porém, o avanço tecnológico oferece retornos mais substanciais a longo prazo. “Investir em alternativas mais modernas pode gerar inseguranças, mas também traz vantagens competitivas e ambientais. “

Enquanto isso, o mercado global está migrando para o diesel verde e o Brasil precisa lidar com algumas consequências vindas da mistura de 14% de biodiesel. Recentemente, a CNT divulgou uma sondagem recente feita pela própria CNT com 710 empresários do setor revelou que 60,3% dos consultados enfrentam problemas mecânicos relacionados ao teor da mistura do biodiesel. “É hora de considerar não apenas os interesses dos produtores, mas também as necessidades dos consumidores e o impacto ambiental das nossas escolhas.”

Armazenamento

Na visão do diretor de combustíveis da Associação Brasileira e Engenharia Automotiva (AEA), Rogério Gonçalves, o que pode reduzir a qualidade do biodiesel é justamente mau armazenamento do diesel que pode comprometer propriedades químicas. “O biodiesel é mais suscetível à oxidação do que o diesel convencional. A oxidação pode levar à formação de compostos indesejados, que podem contribuir para a degradação do biodiesel ao longo do tempo. E isso pode ocorrer durante o armazenamento prolongado”, explica.

Contudo, Erica revelou que, em breve, a entidade divulgará um outro estudo feito por uma universidade brasileira que revela: mesmo com cuidados prévios, a mistura do biodiesel com o diesel mineral resultou na formação de sólidos e resíduos em menos de 24 horas. “Essa limitação química expõe a propensão desses combustíveis à contaminação, independente dos cuidados tomados”, analisa.

No fim de 2023, a Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio) defendeu, em nota, que o aumento do percentual de mistura do biodiesel gera previsibilidade e segurança jurídica para o setor retomar investimentos e acelerar o processo de descarbonização do transporte no Brasil. Segundo a entidade, o setor está pronto para atender a nova demanda com a capacidade instalada atual. Além disso, o biodiesel provou sua eficiência e qualidade para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) imediatamente. Sem custos de mudança de motor ou investimento em infraestrutura de abastecimento.

Clique aqui para acessar o estudo completo da CNT.

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